“Bom dia. Fala-vos o Comissário Verbal. Bem-vindos a bordo do oitavo voo da Matarroa por céus de um hip-hop feito com base na determinação e paixão. Partimos de Angola com destino a Lisboa convictos de que a nossa tripulação – composta por uma auspiciosa variedade de MCs, DJs e produtores – lhe proporcionará um percurso eclético, contagiante e abrangente no que a ramificações do género hip-hop diz respeito. Durante o voo, será servida uma refeição composta por retratos de desolação, incursões lúdicas, jogos de palavras disputados em ambientes tensos; confeccionada pela alma sentimentalmente presa ao old-school (e à Angola de origem) e temperada pela predominância do estilo roots como guia espiritual. A Verbal Airlines (filial da Matarroa, de acordo com o conceito do disco) deseja-lhe uma boa viagem.”
Ao passageiro não restam dúvidas de que os próximos 55 minutos sumarizam a combustão de ideias partilhadas entre as células da esfera Verbal, desde que o produtor / MC intensificou o seu trabalho no meio a partir de 2002. Verbal é o mentor que padroniza o contributo de intervenientes diversos a uma essência limitada a beats, samples e poesia, que é aqui sujeita a um tratamento familiar e descontraído. Viagem Verbal foi concebido como um cosa nostra, mas estende agora o convite aos passageiros interessados.
Flashback. “Em caso de insatisfação, as saídas de emergência encontram-se no refrão inflamável de “Abre espaço” – aspirante à linhagem de “In da Club” (50 Cent) – ou na ternura materna de “Geratriz”.
Torna-se compreensível que, na transposição de três anos de viagem para um disco, se verifiquem alguns acidentes de percurso: Viagem Verbal não escapa ileso aos danos provocados por uma mão cheia de beats requentados. É nessas alturas que se verificam os maiores níveis de turbulência. É aí que o avião treme. Além disso, já não há muito paciência para a repetição de samples pilhados a três teclas de um piano. Contudo, Verbal dispõe nas imediações escape para quaisquer que sejam os lugares comuns: a sagacidade lírica de “Males, guerras e loucuras” sucede ao frágil “Sim-ples-mente”, a frescura de “Geratriz” (digno de figurar nos volumes Jazzmatazz de Guru) antecede a uma “Geração Dourada” perdida num emaranhado de reminiscências. Sobram os antídotos e verifica-se um ligeiro saldo positivo. Uma sentida vénia ao original design gráfico executado por Chemega (cada vez mais imagem de marca da Matarroa).
“Dentro de momentos iremos aterrar num rotativo “quem é quem” de MCs afectos à conduta da Verbal Airlines. A temperatura em “Nada a declarar” é de freestyle firme e urgência em sentenciar. Esperamos que tenha apreciado a nossa entrega.”
Aficionados e interessados podem embarcar desde já no próximo voo a proceder a este roteiro. Todos os outros devem aguardar por novos destinos propostos pela Matarroa.