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Iguana Garcia Vagas

2020


Ah, o difícil segundo álbum – aquele bordão que jornalistas maus, extremamente inteligentes ou bem-educados utilizam quando não querem dizer que não gostaram de um determinado disco ou, até, que o acharam uma valente merda. Os mesmos que escutam Vagas, o segundo trabalho de Iguana Garcia, e que não crêem que nada aqui tenha sido difícil. Pelo contrário: tudo parece ter sido construído de forma bastante fácil. A Iguana pegou no modelo desenhado para Cabaret Aleatório, tirou-lhe umas guitarras, e lançou para o mundo um novo conjunto de canções a relembrar os 80s que nem ele nem os seus ouvintes viveram.

Por arrasto, torna-se bastante fácil analisar Vagas e os nove temas que o compõem. Pop, electrónica, (alguma) languidez, (alguma) poesia. Talvez alguma dança, se os duros estiverem dispostos a dançá-la, ou se ela se mostrar passível de ser dançada (abanar ligeiramente a cabeça e o pézinho, quiçá erguer devagarinho uma das mãos, não é dançar, evidentemente). Não que não faltem temas para isso: "Horas Vagas", em câmara lenta, e o boogie "Que Seja Hoje Então", por exemplo.

O maior problema de Vagas é não aparentar mostrar qualquer tipo de crescimento na sonoridade proposta por Iguana Garcia, o que não seria grosso modo um problema caso o disco contivesse uma "60KF" - um daqueles singles imediatos, orelhudos, que traduzem em poucas palavras a urgência de se querer ser livre. Ou, em suma, talvez a Iguana tivesse podido adaptar-se e evoluir para Camaleão, como um Pokémon qualquer. Não sendo o caso, Vagas é um álbum bem feito; mas, hoje em dia, "bem feito" já não chega. Talvez soe melhor ao vivo.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
05/03/2020