Liga o carro. Acende os faróis. Escapa à dormência suburbana em que te vês inserido e guina em direcção à auto-estrada, caminho de fé que te levará rumo à rave prometida, milagrosa. Não há uma alma em teu redor. E as luzes são tão bonitas na calada da noite, enquanto os outros dormem. Quase que a cidade te apetece mas depois lembras-te: é a cidade que te oprime. É o fumo das fábricas que te retém. E é o chiar dos pneus que te consciencializa. Chegarás em minutos e será como se nunca te tivesses deixado abandonar. O motor dança. O frio entra pela frincha da janela. A velocidade transmite cor e som ao ritmo repetitivo.
120 km/h mas também 80 km/h e 40 km/h. Porque também existe rave na missão: chegar o mais alto possível, junto à capela ou ao rochedo ou ao lugar assinalado com uma placa onde poucos se aventuram. A romaria não precisa de ter data e hora marcadas; basta subir com o carro, evitando os buracos, tentando que as rodas não se prendam na lama. Uma vez no topo, podes deliciar-te com as vistas e com a ausência de ruído - só um beat ou uma melodia sintetizada nos headphones, e o céu azul por conquistar. A liberdade nas asas de um qualquer pássaro a sorrir para ti.
Conduz. Há tantas estradas que precisam que as pises, há tantos caminhos que precisam da tua presença. Há tantas raves a dançar. Há tantas terras onde te fixares. Há tantas armas, tantos sabres por erguer. Tantas melodias que têm que te acompanhar, quer na auto-estrada quer nos montes quer até em casa quando sonhas, aborrecido, com chaves de ignição e manípulos de mudanças. E há imensas alvoradas que querem obrigar-te a travar. Conduz, viaja, toma-te. Quando deixares de ver placas de sinalização, saberás que estás finalmente vivo.