Um sinal agudo, tenso, pulsa nos confins do espaço. A sonda aproxima-se. Espera, estuda, fotografa. Detecta: uma pequena explosão vulcânica aqui, uma colisão estelar ali. Vai descendo, sem pousar: não se sabe o que a espera lá em baixo. Se é que há alguma coisa lá em baixo sequer. Os minutos passam sem que se consiga descobrir uma resposta à questão: avançamos?
IO, disco de Black Koyote com a colaboração do saxofonista Henrique Portovedo, é uma espécie de trabalho de laboratório: vai-se testando, devagarinho, observam-se as diversas reacções químicas, fazem-se cálculos e volta-se a testar. O resultado é um disco onde "exploração" é a palavra chave, mas uma exploração receosa. Um passo a mais pode ser fatal. O que resta é a sensação de tensão, de medo. E será seguro dizer que todos os cientistas podem, não, devem sentir medo. Caso contrário não seriam cientistas, seriam loucos.
Dividido em duas partes, IO busca inspiração à luz de Júpiter com o mesmo nome, mas também o poderia ter feito com a cidade: a toada sombria, com certos tons industriais, parece um relato de todo o medo que, cientistas ou não, se sente à noite, rodeado de prédios mais altos que a imaginação. O saxofone não nos conforta, corta; não há ali alegria ou tristeza, apenas maquinaria. Se a primeira parte nos lembra, precisamente, esse registo citadino de uns Bohren & Der Club Of Gore, a segunda parte da estética ambiente de Burial para, depois, voltar ao início, ao sinal sonoro que indica que a sonda está de volta à base. Agora há que estudar o que ela descobriu.