O norte-americano Brian Wenckebach não é um caso raro. Começou no shoegaze e na vibração das guitarras, foi-se virando lentamente para a electrónica e lançou neste mesmo ano um single em colaboração com a antiga colega Evagelia Maravelias e com o Tangerine Dream Ulrich Schnauss, num projecto intitulado Measured. A solo, esqueçam lá o ruído; Dispellers, segundo álbum com a assinatura Mis+ress, mostra que Wenckeback prefere a calma do ambient à vontade de tudo abarcar do shoegaze.
Não é um caso raro porque há muitas histórias como a dele, de gente que se farta do ruído e procura outros veículos. O que não significa que percam a sua capacidade para sonhar, já que o shoegaze também nos ensina a construir uma boa melodia. Isso é aqui audível, com Dispellers a manter o cor-de-rosa choque do género (esta sinestesia é culpa dos My Bloody Valentine), pintando-o não com feedback mas com electrónica e uma guitarra gentil.
Lamentavelmente, o álbum peca por não conseguir ficar na mesma memória que parece querer resgatar para a sua construção; a guitarra apresenta-se nostálgica e a electrónica guarda tudo o que ficou de um amor passado, mas basta uma ou outra audição para deixarmos tudo isso para trás e seguirmos inexoravelmente em frente, rasgando com o resto. Sobra, talvez, "She Trembles As She Paints", que o romance não se olvida facilmente.