O passado: A base é o esqueleto, ou Skeleton, EP que os Grandfather's House editaram em 2014 enquanto dupla fraternal: Tiago e Rita Sampaio. A base é o blues, elevado à sua maior potência: um amplificador, uma bateria bombástica, uma voz que não quer ser a de uma qualquer diva recauchutada ou sequer soar bem numa avaliação de conservatório chato; quer gritar, quer ripostar, quer trazer para o palco todos os grandes músicos que não eram grandes músicos mas tinham alma, qualidade imprescindível em época de niilismo.
O presente: Depois do esqueleto veio a carne, a mesma que mergulhou nas águas e de lá trouxe novos seres para junto de si, e não só: também trouxe a electrónica, os sintetizadores, uma batida que esmurra menos e dança mais. A carne é Diving, disco de 2017, do mesmo projecto, que depois foi mostrado por esses palcos portugueses afora com menos nervo e mais fatos reluzentes, mais glitter, mais ambição: sair da garagem e conquistar o planeta.
O parecer: Osso e carne fundidos num só criando a mulher, faltava a sua sombra (só os vivos têm sombra). Over And Out tem um título de despedida mas é cartão de visita para o universo de Rita Sampaio, que decidiu sangrar-se biograficamente no seu álbum de estreia, assinado como Ivy. O veneno surge sob a forma de electrónica algo Imogen Heap, sussurros, um bocadinho de eco e harmonias, graves, spoken word ("Infinite Loneliness") e negrume q.b. para conferir o toque amargo obrigatório em todas as biografias. Ainda assim, e apesar de Over And Out ter claramente o seu espaço - e desbravado caminho para conquistar muitos mais espaços - não podemos deixar de ter saudades das guitarras e do nervo. Mesmo sem pertencer àquela estirpe própria de parolos do rock que acha que a Blitz lhes deve o que seja.