Logo nos primeiros segundos após nascermos percebemos que nunca iremos ser inteiramente felizes. E por isso berramos, choramos, amaldiçoamos o oxigénio que nos assalta as entranhas, rejeitamos a promessa de luz, procuramos regressar rapidamente ao conforto do colo materno. E depois crescemos. Entendemos que não é preciso ser inteiramente feliz para se viver uma vida condigna ou sequer para lhe detectar um qualquer significado. Passamos a viver em busca daqueles momentos ténues de felicidade, aqueles sopros básicos que nos façam querer acordar na manhã seguinte.
Os Yak também perceberam isso e deram ao seu álbum o bonito nome de Pursuit Of Momentary Happiness, que à semelhança do parágrafo anterior não ficaria nada mal num qualquer livro de um qualquer Gustavo Santos desta vida. Mas o que lhes falta em filosofia sobra em rock n' roll, que para muita e boa gente representa o topo da pirâmide no que à felicidade, e a esses momentos de felicidade, diz respeito. Apesar do que diz no título, este não é o som de uma banda à procura, e sim o de uma banda que já encontrou, que quer espalhar o dogma eléctrico do qual foi tomando consciência ao longo da sua vida.
Não é fácil precisar o género absoluto de Pursuit Of Momentary Happiness, mas uma influência salta logo à vista, quer pelas texturas, pelos instrumentos utilizados, pela graciosidade das letras e pelo facto de terem J. Spaceman a dar uma perninha num dos temas: os Spiritualized. Mas, ao passo que estes são muito mais dados à teologia (irrelevante discutir se Deus existe ou não, basta ouvir Ladies And Gentlemen... e chegar a uma conclusão própria), os Yak soam-nos mais terra-a-terra, mais preocupados com os afazeres e problemas dos Homens. Sobretudo dos brancos. Principalmente daqueles que violam a terra. O exemplo: "White Male Carnivore", que acelera em sarcasmo e também não ficaria longe das diatribes sociais de sangue novo como os Idles.
Mesmo que "Bellyache", que não é uma má canção, possa assustar um pouco logo ao início - oh não, mais uma puta de uma banda a imitar os Beatles - o álbum vai crescendo ao longo das subsequentes faixas e das muitas outras subsequentes audições recomendadas para poder levar Pursuit Of Momentary Happiness à condição de oxigénio. Só escutando repetidamente é que se perceberá que "Words Fail Me" é uma canção do camandro, um blues de folhas de outono transformado em berro juvenil no refrão e com óptimos versos para a dor-de-corno: How you still permeate my dreamin' / When my wounds were still healing?
Não que não haja momentos mais garageiros: já se falou de "White Male Carnivore", e "Blinded By The Lies" segue-lhe o rasto. Mas a grande virtude de Pursuit Of Momentary Happiness é - porque tem de o ser - a inclusão de Jesus Pierce (que deixou os Spacemen 3 morrer pelos nossos pecados) na canção que encerra o álbum, "This House Has No Living Room", onde entendemos que a premissa inicial, apesar de barata e cliché, estava correcta; nesta vida não poderemos aspirar a muito mais que uns sorrisos de vez em quando, estando-nos reservado, talvez, algo de muito maior no final, uma qualquer redenção: And everyone that you have loved will meet again... A felicidade é como a pluma, já dizia o outro. Talvez a de um anjo.