Não há nada mais humano que mudarmos de opinião. Os anos passam e amadurecemos. E o que era relevante antes, hoje é supérfluo. A boa arte, as grandes obras, resistem ao tempo – tornam-se eternas. A propósito do novo disco, reouvi a discografia da The Cinematic Orchestra. Ma Fleur, de todos, foi o que me desapontou, aquele que realmente me frustrou: nestas páginas do BS, em 2007, ajuizei-o como "excelente". Hoje, quase todas aquelas peças perderam o charme: a pop lânguida, a folk primaveril, a secundarização do jazz, fez com que boa parte do alinhamento perdesse para o tempo: a música amoleceu – tornou-se redundante. Naturalmente, isto é subjectivo, debatível. O efeito tempo exerce sobre nós pressões distintas.
Volvidos doze anos sobre Ma Fleur, chega To Believe, o paupérrimo To Believe, obra que – para já – é difícil de acreditar, não porque seja absolutamente abjecta, mas porque tem tanto para ser boa e não consegue. Da qualidade da produção, nem a escarnecer se pode dizer que seja ridícula. Há ponderação – há aquele saber-fazer que só advém dos muitos anos de experiência (em estúdio e em palco). Contudo, no que toca à inspiração, ao gosto de correr riscos, To Believe não podia ser mais seco – não chega a ser uma seca severa porque há a incrível simpatia de "A Caged Bird / Imitations of Life" com Roots Manuva, colaborador repetente; o rapper brilhou antes em Every day, brilhantemente em "All Things to All Men".
Em tudo o resto, To Believe é simples aversão ao jazz. (Estranhamente afasta-se do género numa das fases mais estimulantes do jazz britânico!) E é pop. Pop aconchegante. São orquestrações que se arrastam, pegajosas; tanto se querem envolver, acarinhar, que se tornam pedantes. São canções que se alangonham. O tema de abertura, e que dá título ao álbum, é choroso, piegas. Amiúde falta honestidade anímica nas cançõezinhas: há beleza escarrapachada, demasiado elaborada; consequentemente inócua. Certo, posso estar a ser injusto agora. Posso estar enganado. Mas também me achei certo com Ma Fleur na altura. Honestamente, espero que o tempo prove que me enganei sobre este disco – porque não há nada mais humano que mudar de opinião e assumi-lo depois com toda a seriedade. Mas para já é isto; o logo, logo se verá.