bodyspace.net


BRUMA Project BRUMA Project

2018


Nascida no Porto, a cantora Sara Miguel mudou-se em 2014 para os Açores (Ilha Terceira). Licenciada em Canto Jazz na ESMAE, lançou em 2012 o seu disco de estreia, “Monção”. Lidera o seu quarteto e integra a banda Peanut Butter Jelly. Nos últimos anos tem colaborado com a Orquestra Angrajazz, que se apresenta regularmente no festival de jazz de Angra do Heroísmo.

Neste projecto BRUMA a cantora propõe uma revisitação jazzística de temas açorianos – um pouco à semelhança do que acontece no projecto do guitarrista André Santos, que por sua vez propõe a revisitação contemporânea do património música tradicional de outro arquipélago português do Atlântico: MUTRAMA - Música Tradicional Madeirense Revisitada.

Além de temas tradicionais, encontramos aqui reinterpretações de temas de Zeca Medeiros, Luís Alberto Bettencourt, Bruno Walter Ferreira e Aníbal Raposo. O eixo central deste disco acaba por ser a música de Zeca Medeiros, que aqui vê quatro temas seus transformados. O autor da obra-prima “Cinefilias e Outras Incertezas” (1999) vê aqui homenageado o seu trabalho, que já faz parte do imaginário e da cultura açoriana contemporânea.

Neste disco a voz de Sara Miguel tem a companhia de Gonçalo Moreira (piano), Zeca Sousa (guitarra e viola da terra), Michael Ross (contrabaixo), Alexandre Frazão (bateria), Roberto Rosa (trompete e fliscorne) e Luís Senra (saxofone tenor). O grupo trata de criar arranjos sofisticados para temas os tradicionais e apesar de ambiente jazzístico, o resultado é sobretudo uma música pop.

Quem conheça ou tenha viajado até aos Açores fica encantado à primeira vista. A música açoriana poderá ser aparentemente menos imediata do que a grandiosidade visual da paisagem natural das ilhas, mas há todo um universo musical que justifica a descoberta. Este projecto recupera temas que ganham nova vida.

A voz de Sara Miguel é segura, sóbria e versátil. O acompanhamento instrumental é irrepreensível. Além do ambiente sonoro globalmente jazzístico, esta música inclui alguns detalhes e apontamentos interessantes (como a guitarra da terra). Cançṍes como “Cançoneta do Forte Fraquinho”, “Cantiga da Terra” ou “Chamateia” ganham aqui novas cores, ficam mais acessíveis. O resultado global é um disco de música pop sofisticada, com travo jazzístico, que merece atenção.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
11/02/2019