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Manuel Guimarães Bloom: Synopsis Of Generative Compositions

2018


Em 1995, Brian Eno utilizou o termo música generativa para descrever música que é criada por um sistema, de uma forma imprevisível - isto é, sem mão humana, nascida de um determinado programa. Errata: terá uma mão humana, a do programador que insere determinados dados de forma a observar de perto o que é que aquilo vai dar. Mas fica a questão: esta música é da máquina ou do seu programador?

A mesma questão suscita Bloom: Synopsis Of Generative Compositions, álbum de Manuel Guimarães que é um compêndio de diversos trechos de composições generativas, dispostas de forma a construir uma espécie de narrativa que não seja apenas binária (porque há muitos números do universo para além do 0 e do 1). O álbum é óptimo, mas será dele? Ou será apenas "Manuel Guimarães" a marca que assina este disco, como num chip qualquer?

Para lá da filosofia há esta certeza: Bloom..., como objecto contendo música de carácter drone / ambiente, desperta os mesmos sentimentos de leveza interior que os discos do género tocados por gente de carne e osso do início ao fim. E não é como se posse puramente digital: o último tema é também o mais humano, recorrendo a um gamelão para adocicar a música criada pela máquina. O talvez estejamos todos dentro da Matrix e seja exactamente isso que a música queira que pensemos.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
04/01/2019