O baterista Mário Costa, natural de Viana do Castelo, começou por se afirmar como membro do grupo de Hugo Carvalhais. O álbum “Nebulosa”, editado em 2010, revelou ao mundo um trio de novos músicos portugueses a tocar uma música como nunca se tinha visto: composições complexas, improvisação estruturada, originalidade de ideias. Com o baterista como esteio fundamental na força do grupo, seguiu-se o também notável “Partícula” (publicado em 2012).
O percurso de Costa tem também passado pela colaboração com outros projectos, como o Ensemble Super Moderne e o grupo Metamorphosis do trompetista Gileno Santana. E o baterista integra o excelente Émile Parisien Quintet, que publicou os aplaudidos discos “Sfumato” (2016) e “Sfumato Live in Marciac” (2018), actuando ao lado de músicos lendários como Michel Portal, Wynton Marsalis e Joachim Kühn - este último assina as “liner notes” deste seu disco de estreia. Em paralelo, Costa vem acompanhando artistas nacionais populares como António Zambujo, Miguel Araújo e Ana Moura.
Agora, o baterista nortenho acaba de se apresentar em nome próprio, com o excelente o disco de estreia “Oxy Patina” (edição Clean Feed). Para este álbum o baterista reuniu um trio improvável, juntando dois nomes grandes da cena europeia: o guitarrista Marc Ducret e o pianista Benoît Delbecq. Revelando a sua vontade de afirmação, o jovem baterista acaba por assinar todas as composições do disco, com apenas uma excepção, um tema que resulta de uma improvisação colectiva.
O formato improvável do grupo poderia levantar problemas: desde logo pela ausência de baixo/contrabaixo, também pela relação entre guitarra e piano, e pelas próprias composições, que assentam em estruturas atípicas. A óptima dinâmica do trio trata de resolver quaisquer dúvidas. O som do grupo é o resultado da união entre as sugestões de Costa (bateria, electrónicas), Ducret (guitarra eléctrica) e Delbecq (piano, sintetizador analógico e electrónicas).
Com fluidez, o trio vai entrelaçando as vozes instrumentais. Os temas saídos da pena de Costa vão crescendo pela interpretação do grupo, e sobressai ainda a qualidade dos solos, sobretudo do piano e da guitarra. Um dos momentos mais memoráveis do disco chega na terceira faixa, “Forest Marble”, que começa quase perdida, piano e percussão numa toada subtil, evoluindo até chegar a melodia, exposta pela guitarra com toda a clareza, transformando-se ao longo de quase dez minutos. Piano e guitarra encadeiam um diálogo, confrontam-se e seduzem-se, com a percussão em fundo, sempre atenta e interventiva.
O disco foi gravado pelo baterista “em casa”, em Viana do Castelo, registado durante o festival Jazz na Praça da Erva. Com este álbum de estreia Mário Costa afirma-se, para além de excelente baterista, como exímio líder e distinto compositor. Este disco é também mais uma prova da actual vitalidade da nova geração do jazz português.