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Uivo Zebra / Dead Vortex Uivo Zebra / Gancho / Event Horizon / Redshift

2018
Bocian Records


Em três novos discos revela-se uma nova música improvisada feita em Portugal. Esta é uma improvisação que foge aos circuitos tradicionais, traz novos nomes e novas ideias, assumindo uma proximidade com o rock. Os Uivo Zebra apresentaram-se e editaram neste ano de 2018 dois discos, um CD homónimo e a cassete “Gancho”. Os Dead Vortex editaram um disco duplo, “Event Horizon / Redshift”. E como elemento em comum aos dois grupos está o guitarrista Jorge Nuno, também membro dos Signs of the Silhouette.

Os Uivo Zebra juntam a guitarra de Jorge Nuno com o baixo eléctrico de Hernâni Faustino (do RED Trio) e João Sousa (dos ParPar). O trio editou o seu primeiro registo, o CD “Uivo Zebra”, em Abril pela editora polaca Bocian Records, e em Maio lançou a cassete “Gancho” (pel’A Besta). O power trio pratica uma improvisação ligada à electricidade, partilhando o mesmo espírito exploratório dos Signs of the Silhouette.

No disco homónimo os Uivo exploram um total de cinco temas, começando por arrancar num toada atmosférica, para só depois rebentar na explosão da electricidade, resultado da união dos riffs da guitarra, com o groove do baixo e a propulsão da bateria. O trio vai explorando pontos comuns entre as três vozes instrumentais, numa estratégia de pesquisa, encontro e diálogo. E não faltam os crescendos explosivos, típicos do free da velha guarda.

Na cassete “Gancho” (apenas três temas, sem título) ouve-se o trio em convulsão, a guitarra com uma linguagem mais rock enquanto a secção rítmica contribui para a turbulência. Enquanto o CD soa mais a improvisação pura, a cassete é mais suja, mais concentrada, mais próxima do free rock: música enérgica, ligada à tomada eléctrica, sem rédeas. Também não falta momentos de pesquisa e exploração, mas globalmente a música aqui é mais directa.

Num eixo um pouco diferente, Dead Vortex é um quarteto que junta a guitarra de Jorge Nuno (novamente na guitarra eléctrica), com Luís Guerreiro (trompete, sintetizador e electrónica), André Calvário (baixo eléctrico) e Pedro Santo (bateria). O grupo editou em Maio deste ano o disco duplo “Event Horizon / Redshift”, formato ambicioso e pouco comum para um registo de estreia de um novo projecto.

Por vezes o som do grupo evoca a fusão do jazz eléctrico de Miles Davis do início dos anos ’70, pela união entre o trompete e a electrónica. Mas o quarteto vai mais além, acrescenta-se uma energia rock e um desalinho da improvisação livre. O resultado é uma interessante mescla de universos, onde a improvisação está ligada à electricidade.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
14/11/2018