A não ser que o talento e o ego consigam coexistir sem grandes problemas de maior, um "supergrupo" é apenas uma modinha passageira que nada acrescenta à história de um ou mais músicos em particular. Quando não são punheta, são uma mera brincadeira ou um encontro saudável entre amigos, não muito diferentes de uma jam session embriagada cujos resultados são prontamente esquecidos no dia seguinte, por entre a ressaca. Até poderá resultar dali alguma coisa engraçada, mas seria precisa muita força de vontade para que o produto final fosse sequer comparável com o original individual. Ou, então, uma gigantesca operação de marketing.
Mas há também vários casos em que esses mesmos supergrupos se superam e provam que existia alguma coisa ali, uma química à espera de reacção. Os Cream, evidentemente, os Fantômas ou até mesmo os Moderat são disso exemplo. Os Sumac, formados por Nick Yacyshyn (Baptists) e Aaron Turner (Isis, Mamiffer), poderiam tê-lo sido caso os seus dois primeiros álbuns, The Deal e What One Becomes, não fossem um bocejo. Felizmente, este supergrupo em particular - e que também conta com a preciosa ajuda de Brian Cook (Botch, These Arms Are Snakes), cujo estatuto enquanto membro oficial ainda não foi bem explicado - perseverou: Love In Shadow é o tipo de álbum que nos leva a pensar se não estaríamos errados em relação àquilo a que uma brincadeira pode levar.
O metal que aqui se ouve continua arrastado, pesaroso, um pântano borbulhante e fétido onde pouca vida cresce. Mas ganhou uma coisa que os dois álbuns anteriores não possuíam: uma identidade própria, um sinal de que os seus membros finalmente despiram as roupas que haviam trazido dos seus projectos. Ganhou sobretudo atitude. The Deal e What One Becomes podem ter sido a supracitada brincadeira; Love In Shadow é uma verdadeira declaração de guerra, e sentimo-lo aos primeiros minutos de "The Task", um épico de 21 minutos que varia constantemente de flanco, querendo deitar fogo a toda a terra.
As comparações serão inevitáveis, mas nenhuma poderá ser tão certeira como aquela que liga Love In Shadow aos Swans, sobretudo nos momentos mais lentos e minimais - só um ritmo repetitivo e uma guitarra lacrimante e/ou lancinante como uma castração pública finalmente posta em prática, após sucessivos adiamentos. É assim nos primeiros cinco minutos de "Arcing Silver", a mais lodosa das quatro canções aqui presentes. Mas que essas comparações não nos desviem daquele que é o ponto fundamental: os Sumac já não andam a brincar na areia. Agora mergulham a sério.