A primeira palavra que nos salta à cabeça é "leveza", a mesma de um dia ameno no campo rodeado por libélulas e dentes-de-leão, ou a de um dia de chuva, em casa, com uma manta nas pernas e uma chávena de chá apoiada sobre a mesa. Uma leveza que ocupa Seen And Unseen de uma ponta a outra - pois que estas são as imagens que crescem dentro de nós à medida que escutamos "Kodama" e "Sleeping Forest", faixas que respectivamente abrem e fecham o novo álbum de Michael Cottone enquanto The Green Kingdom.
Uma leveza também ela musical, com um ambient apaziguador a tomar conta dos nossos destinos durante 40 minutos, ou até mesmo a fazer-nos esquecer que temos destinos sequer. Existe apenas o horizonte, que permanecerá imóvel e imutável - ou não seria horizonte e sim meta, fronteira, cidade. Existe a guitarra de "Kodama", dedilhada com uma pureza mágica e calmante. E a contemplação de todo o céu em "Illuminations (Dub)", com um pequeno ritmo minimalista por debaixo de um drone suave, a fazer lembrar o Aphex Twin mais relaxado.
Voltamos à leveza: de espírito, de esforço. Nada de palavras que possam ferir, fazer pensar, inspirar guerras e ideologias. Apenas a vida, e se não for a vida será apenas o momento, encarado de um modo absolutamente Caeiro. Porque por vezes - se não quase sempre - o melhor é mesmo fechar a matraca e existir, simplesmente.