A primeira coisa que salta à vista em Allways, o novo álbum dos Cave, é um certo sentimento de diversão. Não a nossa - essa varia com cada audição - mas a da própria banda, dada a quantidade de coisas que colocaram dentro do caldeirão onde cozinharam a sua poção mágica, este mesmo disco que escutamos. O mesmo tipo de diversão dos grandes mestres do rock progressivo, que nunca olharam para algo no mundo como uma meta, já que a corrida é mais importante que chegar ao fim.
Em Allways coube de tudo: o jazz, o krautrock, um pouquinho de sintetizadores parolos, riffs psicadélicos e, até, um ou outro cântico no meio de um disco puramente instrumental. E coube o groove, sobretudo o de "The Juan", a primeira faixa de um disco com apenas seis, mas todas elas com mais de cinco minutos. "The Juan" tem sete e meio e, apesar do título nos remeter para algo do universo latino, toda a faixa, excluindo a motorika, soa a algo oriundo das profundezas do highlife africano. Um Awesome Tapes From Black Germany, ou quase.
Se o samba de "San'Yago" baixa ligeiramente as expectativas em relação ao restante, o funk de "Aharaha" coloca tudo no mesmo sítio, a repetição fazendo maravilhas; e, logo depois, o abanão dançável de "Dusty" e os beijinhos eléctricos de "Beaux", quando os Cave definem de facto aquilo que são - uma banda rock que gosta de muitas outras músicas -, tornam Allways em algo de facto apetitoso. "ShaSha", a fechar, é só o after relaxado para uma festa que, imagina-se, durou até altas horas da manhã. São as mais divertidas.