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Leon Vynehall Nothing Is Still

2018
Ninja Tune


Paraíso (concebido para dançar) – assim se propunha o álbum de 2016. O foco estava na pista, na noite, no escape, num utópico espaço capaz de separar a mente do corpo – e dançar, dançar sem preocupações à vista. A ideia e o tom frustraram: Rojus, bem visto, concentrava-se demasiado na feliz mecanização dos músculos e menos na bem-aventurança, virtude que muito caracterizava Music For The Uninvited, álbum de estreia, 2014, todo ele feito de melodias de ponderações poéticas – deep-house de alimentar a alma.

Ao terceiro álbum, Leon Vynehall sacode o código genético da sua música. Mas fá-lo sem a desfigurar. A alteração da sequência de bases no ADN não resultou num corpo estafermo. Bem pelo contrário! Na elaboração de Nothing Is Still, o produtor britânico fez as contas a um novo design e decidiu extrair à rede rítmica de Music For The Uninvited (e nada havia de errado com a textura house!) o que ele tinha de melhor: a verve associada às peregrinações. Leon percebeu que, por ela, e um pouco mais de espírito, seria capaz de ir mais longe, adiante ao ponto fazer um disco apto a contar uma história.

As melhores narrativas são as que se encontram mais perto do coração. E Nothing Is Still é isso: um conto íntimo, um que revolve sobre a emigração dos avós de Leon do Reino Unido para os Estados Unidos nos anos 60. O produtor, na primeira pessoa: “I knew they had lived in the U.S. and heard many anecdotes, but it was only after Pops died and my Nan presented these polaroids of their time there; of her waitressing at the New York Mayor’s Ball in ’66, or Pops with horses on a ranch in Arizona, that she delved deeper into their story, and I started to become overtly inquisitive about it”.

Leon Vynehall escreveu um romance histórico admirável, uma ode aos seus avós. Nothing Is Still vem em capítulos, por partes, com notas de rodapé. Isto é um disco conceptual, pessoal, de sentimentos que não faziam qualquer sentido serem vertidos para a pista de dança. Com um punhado de músicos a ajudá-lo, o produtor britânico enveredou essencialmente pelo ambiental/ minimal, umas vezes revendo o ambient de meados de 90, destroços house, manipulação de samplers e field recording; outras, seguindo em modo atmosférico/ clássica, e aquele gosto por bandas-sonoras – a lembrar os bons tempos de Philip Glass. Uma viagem, uma história completa. Céus... que grande prazer este disco é!


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
17/09/2018