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HAN / Vítor Joaquim / Rodrigues/Buchinho/Guerreiro Tuning the Invisible / Impermanence / Fall

2018


Três discos portugueses que abordam a exploração sonora e musical em registos atmosféricos, partindo de instrumentação electro-acústica. HAN é um duo português, constituído por Emídio Buchinho e Vítor Joaquim, que aqui edita o seu disco de estreia (“Tuning the Invisible”). Vítor Joaquim, músico com um longo percurso como explorador musical, edita um novo disco “Impermanence”, a solo. E o trio Ernesto Rodrigues / Emídio Buchinho / Ricardo Guerreiro apresenta o disco “Fall”, uma edição Creative Sources.

No disco “Tuning the Invisible” a base da música parte da guitarra eléctrica de Buchinho) e da vertente electrónica de Joaquim. Vítor Joaquim trabalha o processamento em tempo real e sampling da guitarra, e pontualmente intervém com diversos instrumentos (órgão, trompete, electrónicas e outros objectos). Além de Buchinho e Joaquim, o disco conta com três convidados, três figuras de proa da cena exploratória portuguesa: os improvisadores Carlos Zíngaro (violino) e Ulrich Mitzlaff (violoncelo), que participam em dois temas, e Nuno Canavarro, autor do histórico “Plux Quba”, que participa num tema (piano elétrico e sintetizadores). A toada do disco é ambiental, sempre à volta do centro de gravidade que é a guitarra. Nos temas que contam comparticipação dos convidados destacam-se, naturalmente: as cordas de Zíngaro e Mitzlaff acentuam a melancolia; no tema em que participa, “Lament”, Canavarro acentua a carga dramática.

Quase em paralelo com a edição deste trabalho em duo, Vítor Joaquim lança também um novo disco a solo, “Impermanence”. Joaquim recorre ao sampling e aqui a base sonora é mais diversa, com os sons processados a unidade. O disco abre com “Here and Now”, uma massa sonora que soa hipnótica, cinzenta e sufocante. O segundo tema, “Stillness”, traz mais ar, numa malha com mais cor. Ao terceiro tema, tema que dá título ao disco, ouve-se uma voz em fundo, numa nota de arrependimento gravada numa cassete antiga, por cima da base sonora. É um dos temas mais representativos do disco, onde o tapete sonoro abafado contrasta com a voz triste. “Desire” é um tema mais cheio, de choque e confronto – mais atípico. De resto o disco é sobretudo marcado por uma permanente tranquilidade, num registo ambiental, de que é perfeito exemplo o introspectivo tema de despedida: “Here is Where is All the Happiness That You Can Find”. Segundo o autor, o disco foi concebido como uma matrioska e está disponível em 3 formatos: em download digital, numa pen USB (formato cartão de crédito) e uma edição limitada de 20 unidades numa escultura de acrílico criada por Rui Grazina (que inclui a pen USB). Uma proposta sui generis onde o conteúdo físico procura a originalidade, tal como a forma musical.

O trio constituído por Ernesto Rodrigues (viola), Emídio Buchinho (guitarra eléctrica) e Ricardo Guerreiro (laptop) apresenta no disco “Fall” uma música que se enquadra na estética habitual da Creative Sources: pura improvisação livre, servindo-se de uma base de instrumentação electro-acústica, com aproximação à corrente “near-silence”. O disco abre como enigma, puro silêncio, só após dois minutos de é que se começam a ouvir pequenos sons. As intervenções instrumentais são mínimas, subtis, e o trio vai alimentando a música com disciplina e leveza. Viola e guitarra mostram-se particularmente discretos, só o feixe electrónico do computador se mostra mais visível, pontualmente. Apesar de puramente improvisada, alimentada com diálogos e mudanças de direcção, e enquadrada numa estética minimal, não deixa de haver também aqui uma certa toada atmosférica.

Numa altura em que assistimos à reedição de dois clássicos de Rafael Toral, “Wave Field” e “Sound Mind Sound Body”, que se tornaram verdadeiros marcos da música ambiental universal, é um prazer cruzarmo-nos com estas outras formas - contemporâneas e diversas - de exploração musical atmosférica.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
04/09/2018