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GusGus Lies Are More Flexible

2018
No Paper Records


Não é fácil fazer música electrónica "de estádio" que soe bem ou que, pelo menos, não soe demasiado parola de forma a impedir-nos de a degustar devidamente no contexto certo. Assim de cabeça, lembramo-nos dos KLF (que podiam não ter canções memoráveis e/ou intemporais, mas cujo pranksterismo foi fundamental para a sua transformação num dos melhores projectos de sempre) e dos Scooter (que, discípulos sonoros dos KLF, tinham e têm grandes malhas - pelo menos divertidas). Certamente que existirão mais uns quantos, mas os GusGus, lamentavelmente, não fazem parte desse lote.

A julgar pelo que se ouve em Lies Are More Flexible, os islandeses chegaram àquela fase das suas carreiras em que só fazem álbuns para, ou se divertirem porque já conquistaram tudo o que havia para conquistar, ou terem uma desculpa para andar em digressão - mesmo que um álbum novo nem sempre seja uma desculpa para isto. Só que, nesses casos, convém já ter feito uma mão cheia de discos memoráveis ou fãs dispostos a pagar balúrdios para ver o único concerto que verão num determinado ano. Como, sabe-se lá, os Rolling Stones ou os U2.

No novo álbum dos GusGus há house, há algum techno, até há teclados e melodias trance a pairar ali pelo meio, ora por ora acompanhadas por uma voz humana para que a roupagem da roupa seja ligeiramente mais pop. Só não há é vontade de o voltar a ouvir mal acabamos a primeira audição, já que tudo é tão sensaborão que chateia - nada disto fomentará discussões, citações, ou partilhas no Twitter e carradas de visualizações no YouTube. Não, é só uma coisa surpreendentemente chata. Provavelmente, nem as drogas certas o conseguirão salvar. Electrónica de estádio? Só se for para um estádio vazio.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
11/05/2018