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Rajada Rajada

2018
Multikulti Project


Rajada: Golpe de vento violento e de pouca duração; acção ou movimento súbito ou impulsivo; série rápida e contínua de tiros; movimento, rasgo. É isso. E está tudo no nome, porque são estas também as melhores descrições, quiçá as únicas, que se podem fazer do disco do trio Rajada: Pedro Sousa, Miguel Mira e Afonso Simões, que se juntaram para um álbum editado há poucos dias pela polaca Multikulti.

Em apenas duas faixas, que juntas perfazem quase uma hora de música, Rajada assume-se como uma das propostas mais interessantes do jazz de 2018. Muito por culpa de Pedro Sousa e do seu saxofone, que se posiciona à dianteira do demais som. O sopro não é forte per se, mas é dominador; ora obriga a uma pausa no ritmo, ora lhe aumenta a velocidade, como em "Desata", ali por volta do minuto nono.

Como parece ser apanágio no free jazz e na música mais livre, leve e solta, são esses momentos mais desenfreados que nos abalam, verdadeiramente, como se deitados abaixo por uma rajada mais forte. Não há maior liberdade que no caos e não se sente tanto o vento como na aceleração. E são também esses os momentos em que o saxofone deixa brilhar os seus comparsas, quer o violoncelo quer a bateria, formando um bolo coeso e bastante apetecível. Só não vale usar um corta-vento.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
25/01/2018