Nascido em Coimbra em 1983, João Camões estudou viola no Conservatório de Música de Coimbra e, já em Lisboa, descobriu a cena improvisada e experimental. Herdeiro musical de Carlos Zíngaro (pioneiro da improvisação em Portugal, com quem tem trabalhado), Camões explora na viola d’arco uma combinação de abordagens criativas com técnicas clássicas, sempre com fluência improvisacional. Actualmente integra os grupos Open Field, Earnear e Nuova Camerata - quinteto “all-star” com Zíngaro, Ulrich Mitzlaff, Miguel Leiria Pereira e Pedro Carneiro.
Camões teve uma recente estadia em Paris onde desenvolveu contactos com a cena improvisada local e este disco é o resultado desse trabalho. Neste novo disco a viola d’arco de João Camões tem a companhia do trompete de Jean-Luc Cappozzo e da electrónica de Jean-Marc Foussat. Se, pela própria natureza instrumental, o trio por vezes se aproxima de uma vertente camarística (característica que se assume de forma mais clara sobretudo num seu outro projecto, a Nuova Camerata), a integração da electrónica vem adicionar um carácter de originalidade e diferença.
Ao longo das três peças longas que enchem o disco (todas com mais de quinze minutos), a viola de Camões parece ser a principal instigadora do trio, muito activa a lançar ideias, com o trompete de Cappozzo a seguir, também respondendo, também provocando. A electrónica de Fousssat começa por assumir um papel mais secundário, mas vai aumentando a sua relevância à medida que cada tema evolui, crescendo na sombra.
Um dos momentos mais memoráveis surge ao meio do terceiro tema, com a viola a estabelecer a tensão em fundo e o trompete a desenhar linhas claras, polvilhado com uns pozinhos de electrónica. Os três músicos trabalham num permanente equilíbrio, num diálogo sem atropelos, uma rica improvisação “neo-camarística” que se desenvolve pela união de esforços.