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Mário Franco Rush

2017
Nischo


Mário Franco é um experiente contrabaixista que, já com uma longa carreira, chega aqui ao seu terceiro disco na condição de líder. No ano de 2006 editou “This Life” (TOAP), disco gravado em quinteto que contou com o convidado especialíssimo David Binney. Em 2014 editou “Our Door” (TOAP / OJM), gravado em trio com Sérgio Pelágio (guitarras) e André Sousa Machado (bateria), uma abordagem mais despida e directa. É ainda um dos vértices do quarteto Cine Qua Non (com Paula Sousa, João Paulo Esteves da Silva e Afonso Pais).

Franco integra também o trio de Esteves da Silva, que gravou o excelente “Brightbird” (um dos grandes discos nacionais do ano, que tem merecido também justificada atenção internacional). Este seu novo disco é o oposto completo: em vez da suavidade acústica e poética do JPES Trio, temos aqui uma música eletrificada; em vez da improvisação aberta, temos aqui composições bem definidas e estruturadas.

O contrabaixista lidera um grupo focado na electricidade, próximo do rock: há uma guitarra elétrica (Sérgio Pelágio); piano Fender Rhodes, orgão Hammond e outros teclados (Luís Figueiredo); piano e electrónicas (Oscar Graça); e bateria e percussão (Alexandre Frazão). O próprio Franco, além do contrabaixo, também se aplica no baixo eléctrico e samples.

Todas as composições são originais, a maioria escrita exclusivamente por Franco, algumas de composição partilhada com Pelágio (três temas) e ainda um outro escrito em parceria com Pelágio e Frazão. O “Rush” do título quer pôr em causa a pressa da vida, “onde tudo passa a correr e não conseguimos agarrar o tempo” (palavras do próprio). Se alguns temas exibem essa velocidade estonteante do título, a música também abranda em temas mais reflexivos.

Os temas são fortes, interpretados com energia e dinâmica por um grupo de excelentes instrumentistas que se entregam ao som colectivo, sem notas de individualismo. Um dos pontos altos do disco é, apesar do título, o tema “Dia de Merda”. Arranca em modo melancólica, com o piano clássico em destaque, e vai evoluindo com o colectivo, crescendo até quase rebentar; e no fim regressa a bonança, com o piano a fechar o ciclo.

Se já conhecíamos a qualidade instrumental de Franco e a sua sensibilidade melódica (certamente discípulo de Charlie Haden!), este novo disco é a confirmação da maturidade como compositor e músico completo, que aqui apresenta uma proposta original: música ligada à corrente, sem medo do rock, recheada de ideias.

O disco inclui ainda um conjunto de fotografias, uma para cada uma das músicas, de diversos autores/fotógrafos, alguns deles também músicos: Nanã Sousa Dias, João Paulo Esteves da Silva, Vitorino Coragem e Bernardo Sassetti, entre outros.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
17/01/2018