O seu nome não será imediatamente reconhecível, mas o saxofonista José Lencastre já tem história na música nacional. A sua formação académica passou pela escola do Hot Clube de Portugal e pelo estrangeiro, com passagens pelo Chichester College of Arts (Inglaterra) e pelo Eastman Community Music School (Rochester, Nova Iorque). Nos últimos anos vem colaborando com diversos projectos, entre o pop-rock, jazz e o funk, e participou nos discos de Tsuki, Cacique 97, Potlatch, The Grasspoppers, Social Smokers, entre outros. Colaborou ainda com projectos como Tiago Gomes & Tó Trips, Gnu, Philharmonic Weed e Gazua, entre outros. E já este ano Lencastre editou um novo disco de música improvisada, o álbum 08.30/18.09/10.10/10.18, gravado em trio com Jorge Nuno e Pedro Santo, disco editado pela Creative Sources.
Para aquele que será o seu projecto de assinatura mais pessoal, o saxofonista e improvisador reuniu um quarteto de luxo com alguns dos mais notáveis improvisadores nacionais. Na bateria está João Lencastre, seu irmão, baterista e compositor de créditos firmados com uma discografia sólida ao leme do grupo Communion, que também acaba de editar o disco “Movements In Freedom” (Clean Feed). No piano está Rodrigo Pinheiro, pianista do celebrado RED Trio, membro dos grupos Earnear e Clocks and Clouds, e que este ano participou como convidado no concerto Life and Other Transient Storms no Jazz em Agosto (melhor concerto do festival, um dos melhores concertos do ano). No contrabaixo está Hernâni Faustino, também do RED Trio e membro dos grupos Falaise, Rodrigo Amado Wire Quartet, Staub Quartet, Vítor Rua & The Metaphysical Angels, Elliott Levin’s Lisbon Connection e Nobuyasu Furuya Trio, entre outros. Todos músicos experientes e com trabalho rico no mundo da improvisação, portanto.
O quarteto nacional explora uma música exclusivamente assente na improvisação livre, sem composições nem ideias pré-definidas. O disco arranca numa toada mansa, numa espécie de tactear à procura de pontos de contacto, até que o quarteto se encontra, a música vai crescendo lentamente, até que explode com toda a força (ouça-se a faixa seis). Terminada essa primeira parte, na segunda metade do disco o quarteto volta a explorar, num permanente trabalho de pesquisa, o encontro e o desencontro, o entendimento e o choque. O Nau Quartet trabalha uma improvisação aberta exibindo lirismo, característica rara na cena improvisada; mas não lhe falta também uma imensa energia. Lencastre não se serve do grupo como veículo para qualquer espécie de exibicionismo técnico, prefere realçar um contínuo diálogo musical que é alimentado entre quatro óptimos intérpretes. A nau navega segura.