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Pedro Nobre E Depois…

2017


Oriundo da Marinha Grande, o pianista Pedro Nobre apresenta-se ao mundo com o seu disco de estreia E Depois…. Com formação que passou pela Escola de Jazz Luiz Villas Boas (do Hot Clube de Portugal) e pela Escola Superior de Música de Lisboa, o jovem pianista integra a Orquestra Jazz de Leiria. Chegada a hora de se mostrar na condição de líder, numa edição de autor o músico apresenta um conjunto de sete temas originais e ao seu lado está um grupo que exibe segurança, reunindo nomes fortes da cena jazz portuguesa: o saxofonista Pedro Moreira, o guitarrista Nuno Costa, o contrabaixista António Quintino e o baterista Pedro Felgar.

Desde logo, o pianista mostra que não quer colocar apenas o foco sobre si próprio, que o seu objectivo não é exibir a técnica instrumental, aliás, tem o gesto generoso de convidar dois outros solistas – Moreira e Costa. Nobre investe num grupo sólido que trabalha uníssonos impecáveis no desenho das melodias. Saxofone, guitarra e piano sabem articular-se entre si para evitar atropelos, num trabalho harmónico competente.

As sete composições são todas originais. O primeiro tema (homónimo) acaba por soar demasiado esquemático, frio nas voltas da melodia. O segundo soa a herdeiro dos clássicos Blue Note dos 50’s. Um dos pontos altos do álbum chega com “Miss Smulders”, particularmente na elegante introdução de piano solo de três minutos, com o tema a evoluir com a entrada do restante grupo.

“Pineapple” dá espaço para uma introdução a solo do contrabaixo, contrastando com a entrada em força do grupo. E um dos temas mais memoráveis será a quinta faixa, “July 9”, composição simples onde piano e guitarra começam por apresentar o tema, até entrar o saxofone. A despedida chega com “Os Avós”, tema onde o piano está sozinho e, em menos de dois minutos, revela a sua capacidade de transmitir emoções.

A qualidade instrumental do grupo é evidente: o saxofone de Moreira tem aquele som clássico, refinado; a guitarra de Costa é irrepreensível, claro; a secção rítmica é equilibrada; e Nobre mostra-se, além de compositor, um intérprete de qualidade. Alinhado numa matriz de jazz mainstream contemporâneo, os temas acabam por ser todos demasiado longos (só há um com menos de 5 minutos); compreende-se a intenção de dar muito espaço, mas por vezes o tema estende-se demasiado e perde-se o foco.

O disco E Depois… revela um promissor músico - instrumentista e compositor – com técnica e muitas ideias. Há pormenores de bom gosto, há solos memoráveis, há momentos para guardar. Há também algumas arestas por limar, mas o futuro está do seu lado.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
05/12/2017