[.que] é o moniker com o qual o japonês Nao Kakimoto assina a sua música. Um falante do português poderia ver neste nome uma pergunta, mas não é disso que se trata Wonderland. Nem de perguntas, nem de respostas. Ao invés, Kakimoto convida-nos a sentar, sossegados, à janela, apreciando a queda das primeiras folhas de outono e uma chávena de chá fumegante. A esvaziar a mente e a fazer algo de que por vezes nos esquecemos: respirar.
Wonderland não se refere a uma qualquer terra mística e longínqua, e sim ao quotidiano e à beleza que o quotidiano esconde quando não deixamos que desabe sobre as nossas cabeças. Ao silêncio que existe no dia-a-dia. Como em "Quiet", onde passos e o som da chuva dão lugar a um piano terno e alegre na sua própria melancolia. "Faraway" segue-lhe o rasto, não representando um local físico e sim um estado de espírito. Podemos ser felizes onde quer que estejamos desde que queiramos sê-lo. E isso implica uma paragem, e não uma viagem.
Não se pede muito a um disco ambient que não ser capaz de quase nos obrigar a relaxar. Wonderland consegue-o com recurso à electrónica, que compõe uma camada sobre o qual instrumentação analógica - pianos, guitarras - nos puxa pela mão. É um diário aberto no qual podemos escrever todos os nossos pavores, fechá-lo à chave e guardá-lo na gaveta até precisarmos novamente dele. E quando foi a última vez que largaram tudo?