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Tim Bernardes Recomeçar

2017


Tim Bernardes decidiu chamar ao seu disco de estreia a solo Recomeçar. E tê-lo-á feito por dois motivos. Porque para trás está um percurso, desde 2009, com O Terno, e porque para a frente poderá estar uma nova vida para o músico brasileiro. O seu primeiro disco em nome próprio poderá muito bem mudar-lhe a vida.

Percebe-se logo nos momentos iniciais que Recomeçar é um disco que se assume como obra. O piano, as cordas e o lirismo (e este último não vem na ficha técnica). Tim Bernardes dedicou muitos anos a este disco e isso percebe-se a cada instante. Construído de forma solitária, Recomeçar é coisa do sonho e do desejo. É um devaneio tornado realidade.

Recomeçar não tem a preocupação – ou obsessão – de soar a um disco brasileiro no seu som. Apesar de cantado inteiramente em português, as suas treze canções são feitas de uma pop de peito cheio, universal e sem receios de um certo revivalismo. Este não é um disco para o Brasil, nem para Portugal; é um disco para o mundo.

“Quis mudar” é um momento especialmente belo e onírico. Os arranjos, espantosos, são a cama perfeita para a narração sentimental daquilo que o apoquenta. Recomeçar é então um disco sobre o fim de uma relação, algo que Tim Bernardes aborda de infinitas maneiras. Com um banho de cordas e metais atrás.

Mas nem só de momentos épicos e de grandes arranjos se faz este disco: Logo a seguir, como exemplo, “Tanto Faz” precisa de pouco para se impor em toda a sua beleza e simplicidade: “Vai ter copa, vai ter carnaval, mas contínua errado”, diz o brasileiro a certa altura. Nem tudo, meu caro Tim Bernardes, nem tudo.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
17/10/2017