Pode não parecer, mas o shoegaze e o metal são filhos de um mesmo pai: o rock psicadélico. Ao passo que o segundo preferiu a paranóia do peso, o primeiro optou por colocar um pé em si próprio e o outro no seu extremo; é a distorção enquanto trip, são camadas e camadas de som sobrepostas de forma a moldar, como se pinta um quadro ou se tece um tapete, o retrato de uma viagem por terrenos pantanosamente narcóticos. E, mesmo tendo estado afastados durante tanto tempo, parecem ter voltado a encontrar-se nos últimos anos, especialmente no que ao black metal (que sempre foi o shoegaze para metaleiros) diz respeito.
Os Alter não fazem blackgaze ou nada que se pareça com esse termo idiota, mas são influenciados, certamente, tanto pelo lado mais pesado do metal como pelos ambientes do shoegaze e de outro dos seus parentes, o pós-rock. Em Pendulum, é possível constatar ambas as vertentes ao longo dos 18 minutos de duração do disco, sempre em toada melódico-épica. "False Mirror", a primeira faixa, tem uma intro delicada e curta que de imediato resvala para o fuzz, destacando-se acima de uma voz encharcada em eco.
O resto não difere muito - "False Mirror" desagua imediatamente em "Momentary Life", sem sequer dar tempo ao ouvinte de respirar, cativando-o pela fúria da bateria e por uma guitarra em tremor constante. Lembra uma espécie de filme do fim do mundo, que recorre tanto a planos acelerados como à câmara lenta, e cujo clímax está reservado para "The Storm", tema onde as duas vertentes que inspiram os Alter - peso e mood - se apresentam de forma mais explícita. "Lost Instinct", grito gaze, é só a cereja no topo do bolo. Imprescindível tanto para metaleiros como para alternativos.