«Qualquer prego é intencional». É assim que os Panado descrevem o seu álbum de estreia, Juventude Coxa, na sua própria página no Bandcamp. Parece coisa pouca; uma ingénua piada proferida por uns miúdos ingénuos e auto-depreciativos, um ponto e vírgula no seu currículo, uma granada semiótica de forma a apanhar e ferir um ouvinte mais incauto que poderá pensar estar perante algo sério. Ou então é um gigantesco fuck off carregado de atitude, ao bom jeito punk do tipo que se está a cagar para tu te estares a cagar. Ou é a melhor descrição de sempre para um álbum, e ainda por cima de estreia.
É qualquer coisa - isso sabemo-lo, e confirmamo-lo ao escutar Juventude Coxa. Confirmamo-lo ao escutá-lo uma, duas, três ou quatro vezes, independentemente dos pregos - e se os há, quem é que quer saber? -, independentemente das piadas ou do punk ou da cagada. «Qualquer prego é intencional». Foda-se, é que isto fica a marinar no cérebro, e quando damos conta já os Panado formam uma grande parte da nossa dieta musical: rock n' roll sujo e desmedido, com um pé nos grandes do passado e um outro nos enormes do futuro, sem cedências ou preconceitos. O ruído a bater-nos despudoradamente de frente como um touro numa largada.
Juventude Coxa nem sequer precisa de ter letras a adornar aqueles rasgos de genialidade eléctrica, e tem-nas, na grande maioria das vezes resumidas a gritos e a efeitos. Mas há aquela frase em "Preguiça", uma frase com a qual poderemos concordar: I want a Milka everyday. Um Milka recheado de creme de morango, de caramelo ou até mesmo com sabor a Panado - porque não? A única coisa que é certa em Juventude Coxa é a vontade de comer mais, muito mais, de preferência no pão e acompanhado por uns quantos finos. O colesterol não é nada comparado com o rock.