O David Attenborough meteu umas merecidas férias e deixou-nos o fardo, não muito pesado, diga-se, de contar a história desta zebra nascida monocolor num antro de predadores mais ou menos ferozes. Esta é a história da luta pela sobrevivência no, não raras vezes, canibal mundo musical. Esta é a história de um animal que, apesar de não ser mitológico, bem que poderá vir a entrar no mundo na mitologia musical lusa. São uma zebra negra de duas cabeças (Hugo e Nuno Machado) e fazem de Nonsquare a sua nova arma na luta contra hienas e leões. Esta é a sua crítica possível.
Com o primeiro EP The Worst Shit Demo (2015) a coisa foi mais ou menos assim. Pequeno e frágil. Processo natural. A potência estava lá, faltava-lhes burilar o potencial. Algo que veio a suceder neste seu primeiro, assertivo e “não quadrado” long-play Nonsquare. Os perigos eram vários…
…mas falhar não era uma opção. Guitarra ao alto, bateria à beira de um ataque de nervos (Hugo Machado já é um belíssimo baterista com 17 anos acabados de fazer, imaginar mais dez anos em cima e será, por certo, um dos melhores bateristas nacionais) e um propósito em mente que transpira de cada um dos doze temas em jogo. Esta ideia de propósito acaba por ter um papel fundamental nesta criação a “duas cabeças”. A cumplicidade e frequência unívoca geram um post-rock que se entranha de forma simples mas eficaz nos mais empedernidos dos ouvidos. Há força, há dinâmica mas há subtileza e, sobretudo, autenticidade. Pode ser difícil criar fórmulas diferentes dentro do post-rock. Não que esteja tudo inventado, nada disso. Esta dificuldade foi colocada fora da equação pelo duo de Vila das Aves. Há uma história contínua, mas uma história feita de dinâmica…”não há derrota quando é firme o passo” e, quando assim é, até os leões “largam a asa”…