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The XX I See You

2017
Young Turks


The XX eram, em 2009, três putos giros a soar melancólicos como se já tivessem experiência de vida suficiente para soar doridos pelas vicissitudes. Apesar da ambiguidade, o alinhamento de XX expôs coerência na composição sonora e artificio na escrita dos poemas – o mínimo exigido para se ter um punhado de canções dignas de serem apreciadas em dias invernosos. Coexist, em 2012, foi um bocejo monumental: mais do mesmo a tentar ludibriar com floreados.

Jamie XX é sobrestimado: é um habilidoso a exercitar feitiçaria básica. Certo que a XL Recordings lhe deu em 2011 a oportunidade de conviver com Gill Scott Heron; o resultado ficou-se por algo com relevo centímetros acima do mediano – Jamie nunca consegui verdadeiramente derramar a alma do velho mestre sobre as suas estruturas basilares. Depois de Coexist, Romy e Oliver ficaram on hold enquanto o amigo arquitectava In Colour, que ainda hoje não passa de um batido trôpego: momentos engraçados intercalados com épicas inocuidades.

Parando de implicar com o estilo de produção on the nose de Jamie XX, voltando aos The XX como um todo, indagando no novo de originais, há a imediata tendência para achar que há luz a romper pelas frestas das persianas e a iluminar pela primeira vez, positivamente, o quarto escuro em que o trio gosta de estar para se sentir bem por se sentir mal; ou será ao contrário? Tanto faz. I See You. A luz que agora entra no quarto é artificial. E agora o pecado é fatal: ludibriar à segunda é ofensivo.

Os mesmos acordes sonâmbulos do baixo de Oliver, dedilhadas de guitarra um-mais-um-igual-a-dois de Romy, os duetos de ambos cada vez mais coreografados – a ingenuidade perdeu-se a favor da estratégia da canção arranjadinha –, Jamie escarrapacha a experiência de fazedor de beats adquirida nestes últimos anos. Tudo soa a depuramento de técnicas, savoir-faire, impressionismo pop de uma banda indie/new-wave – ainda vale a pena chamar-lhes isso? – incapaz de provocar impressão para além da meia-noite. I See You é um disco engraçado à primeira. Mas quando se percebe que a puerilidade desapareceu de vez, a revelação é reveladora. Adeus!


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
31/01/2017