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Skepta Konnichiwa

2016


Nos anos mais recentes, o grime redescobriu as suas, porventura mais importantes, vocações. O impacto físico/mental das suas rimas, e a invenção rítmica das suas produções. Depois de anos em que o espectro comercial foi dominado por diluições em aguarelas rave-pop, repletas de rimas básicas e refrões apimbalhados, a congénere britânica do hiphop mostra-se disposta a conquistar o público sob os seus próprios termos. E a verdade é que nunca teve tanto sucesso em termos de audiências de concertos, festivais, e noites temáticas de clubes como agora. E até de fãs como Kanye West ou Drake. É neste contexto que surge o muito aguardado novo álbum de Skepta, 2 anos depois da sua declaração de intenções/arrependimento “That’s Not Me”. E ”Konnichiwa” obriga-nos a um reformatar de ideias.

“Shutdown” tinha sido outro dos avanços para o disco, e conquistou imediatemente um lugar no quadro de honra dos bangers. Rimas furiosas, e um refrão tão perfurante como uma britadeira, fazem dela já um clássico deste e de qualquer outro género. Agora que temos o disco todo para ouvir, a conclusão primária é um tanto ou quanto paradoxal. Skepta fez um excelente álbum de grime….boom-bap. Parece impossível? Antes de ser ouvido parecerá. Mas o facto é que as produções que dominam o disco, a maioria do próprio Skepta, são bastante secas. Dependendo em muito do equivalente grime do bombo-&-tarola. Não é que deixe de ter os ruídos sintéticos, qual filme de acção situado numa Londres não-gentrificada, que nos habituámos a ouvir. Simplesmente é a voz de Skepta o prato principal de ”Konnichiwa”. E o MC de seu nome de baptismo Joseph Adenuga tem destreza suficiente para levar o disco nas suas costas a bom porto.

Existem convidados. Alguns até a apontar para o mercado americano, como Pharrell Williams. Mas, por incrível que pareça, “Numbers” trás mais a super-estrela para o mundo de Skepta do que o contrário. Só “Ladies Hit Squad” é que apresenta um refrão mais cantado, da autoria de A$ap Nast. Já faixas como “Lyrics”, “Crime Riddim”, ou “Man”, são flow londrino em modo pugilista, hábil de pés, e rápido com os punhos. Nas estrofes e nos refrões. Dedicando Skepta a maioria destes a falar de si, da forma como a sua vida evoluiu, da sua lealdade à crew da Boy Better Know, e da sua desconfiança relativa às figuras da autoridade. ”Konnichiwa” resulta assim num álbum compacto e musculado, onde o grime encontra para si um espaço que pode levar a muitos e bons caminhos. É aproveitar para marcar o ponto no mapa das nossas colecções.


Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
12/07/2016