Mais do que a respeitar o som, aprendemos a não temer o silêncio. Porque o silêncio é ausência, e não lidamos bem com a ausência; porque o som é quente ou frio, ruidoso ou sussurrante, violento ou relaxado; é cor em movimento, ao passo que o silêncio é negro e estanque. Ora, John Dikeman (tenor), Andrew Lisle (bateria), Dirk Serries (guitarra eléctrica) e Colin Webster (barítono) começam precisamente pelo silêncio, rejeitando o medo. Um silêncio que vai, gradualmente, dando lugar à tensão sonora que emana do saxofone, um espectro que vai fazendo fade in - e estão descritos os primeiros minutos desta aparição.
Apparitions, disco editado este ano pela holandesa Tonefloat - que viemos a descobrir através do magnífico disco dos Yodok III - é todo ele tensão em cadeia, jigajoga pulmonar entre os músicos, que ora vão espreitando a sua oportunidade para pôr de parte o silêncio, ora se atiram a ele em conjunto. Um drone eléctrico permeia a primeira faixa do álbum; a percussão e os saxofones seguem-se-lhe, adiando a explosão do vulcão - que só se sente na parte final, com o acelerar da bateria, com a cacofonia do sopro, com os anti-riffs a chocalhar ouvido adentro.
Não é para todos mas, se fosse fácil, não era para nós. Apparitions é um belíssimo - e liberto - álbum, onde o clímax se atinge nos momentos de maior confusão, que é como quem diz: através da magia eterna do ruído, esse exército imortal que se bate contra o silêncio há milhões de anos, aqui arrancado à influência de uma obra como Machine Gun. Aquele momento inicial do primeiro tema não passa, por isso, de um engodo; apresenta-nos o inimigo e, de seguida, coloca-nos contra ele. Alistemo-nos.