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Moomin A Minor Thought

2016
Smallville Records


Da Alemanha não vem só technocracia. Ou pragmatismo. Ou austeridade. Por lá também existem sonhadores descomprometidos com aquela espécie de identidade nacional. A cena techno é por onde os alemães mais se distinguem: em Berlim, Ostgut Ton; ou em Colónia, a Kompakt. Mas existem outros distritos, menos óbvios – mas presentes: a Smallville Records é um desses lugares onde (demoradamente) acontecem coisas interessantes; ela não tem uma regularidade como a Ostgut Ton ou a Kompakt; emergência/ urgência não são estados que importem na Hein Hoyer Strasse, em Hamburgo: o último grande disco da Smallville saiu em 2008: Songs From The Beehive, e juntou os colossos Move D e Benjamin Brunn.

Fazer pouco, mas fazer bem. E acima de tudo, saber sonhar de olhos abertos. Entre Christopher Rau ou STL, a Smallville também acolheu Moomin: ele chama-se Sebastian Gen. A sua estreia em longo formato foi em 2011: The Story About You viu a luz do dia poucos meses volvidos sobre a edição do seu primeiro EP – um facto inusual já que muitos produtores passam anos e anos a abusar do formato 12” em busca de identidade estética.

Cinco anos depois de The Story About You, Moomin mantém-se fiel às suas linhas orientadoras: deep-house com partituras rítmicas marteladas no Roland 808 em contraste com melodias planantes e exóticas entremeadas com samplers smoth-jazz, pop e soul de origens duvidosas. Não há muito a distinguir The Story About You do novo A minor Thougth a não ser a (relativa) maturidade.

Este novo disco é um esforço de coerência. É deep-house que não quer ter nada a ver com o que se faz na América neste momento – não quer ter nada a ver com o que Moodyman ou Theo Parish fizeram nos últimos anos. E mesmo assim é Detroit. É Chicago. É Larry Heard. Também é um pouco de Nova Iorque, via Blue Six – numa lamecha reminiscência. E numa realidade paralela, o mui consistente "Woman to Woman" (o tema seis do alinhamento) é uma espécie de remistura duma qualquer aventura pueril que os Lemon Jelly tiveram em 2000.

Estamos – absolutamente – a vários quilómetros dos pólos que caracterizam a technocracia alemã – amiúde distópica. Mas também separados da espiritualidade da soul norte-americana. Falamos, basicamente, de um som que navega divertido entre as margens cosmopolitas do rio Elba em busca de um porto seguro onde atracar com confiança. Com isto não dizemos que a música esteja de todo desorientada, mas, e com honestidade, já será justo afirmar que ela ainda padece de alguma insegurança narrativa.

A textura de A minor Thougth é repetitiva – um claro eufemismo para teimosa. Para além do sentimento de alguma programação em quase piloto-automático, o alinhamento vale pela doçura das ambiências, pela candura melódica: o disco é num ambíguo empilhamento de trejeitos soul, funk, pop e filosofia balearica – em que há muito, mas ao mesmo tempo não há nada de muito concreto. É um disco reconfortante, sonhador – apesar dos lugares comuns que replica aqui e ali. Ouve-se com gosto enquanto se aguardam outras deambulações mais provocantes. Democraticamente, aceitável.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
04/04/2016