As palavras soam como que mágicas, sobrenaturais: o mantra que chama o génio da lâmpada, ou a prece pela qual respondem as fadas da Cinderela. Bin Beri Ban é, na verdade, um verso retirado de um poema de Hugo Ball, canónico dentro do dadaísmo, "O Gadji Beri Bimba". E é também o nome de um trio brasileiro que, como o dadaísmo, se dedica à desconstrução. Neste caso, da ideia de tropicália, das suas melodias e dos ritmos quentes, das suas canções e revoluções, vestindo-a com roupa nova. Um espectro que ganha vida.
Poderíamos chamar-lhe pop hipnagógica recordando os trabalhos de Ariel Pink, a chillwave ou uma mão cheia de faixas dos Boards of Canada, mas isso não seria fazer jus à qualidade do que aqui se ouve, por isso arrisquemos: Bin Beri Ban é um golpe de génio. Olhe-se para a apropriadamente intitulada "Astronauta", com seu órgão cósmico, arranque do motor de um veículo que nos transporta numa soberba viagem pelo clarão do psicadelismo brasileiro. Já não sei mais para onde eu vou / Se em cada passo eu vou partir..., verso que é parente próximo *daquele* convite d'Os Mutantes: Para onde eu vou, venha também..., antes de acabarmos no surrealismo de quarto de "Zênite".
Não haverá, contudo, uma canção que melhor descreva o som dos Bin Beri Ban - se é possível fazê-lo segundo trâmites aceitáveis - do que "Alethéia", cruzamento entre o balanço tropical e o noise-folk dos Flying Saucer Attack, que ao longo de sete gloriosos minutos de magia pinta um quadro celeste onde o horizonte é um gigante azul e a relva cresce com a velocidade de uma estrela cadente no céu. Mas que o fascínio outsider dos Bin Beri Ban não se perca nestas três primeiras faixas: há também a bonita "Quase Manhã", soando como o despertar de um mundo novo, o cabaret caótico-fúnebre de "Enterro" ou até mesmo a New Weird España de "Ratonera". Génios da lâmpada ou não, podemos pedir-lhes que façam mais disto?