A Sara pode dizer que não tem nome, mas tem versos. E começa-os assim: É, são dias difíceis de se viver / É, são dias difíceis de se entender / E eu me esqueço do que eu disse um segundo atrás / Não sei se tenho fome ou vontade de comer, me deixa em paz. É assim que ela nos abre o seu diário, agora menos secreto, enquanto ao fundo uma guitarra adiciona um delicioso jangle ao poema e desabafos teen. Sem deixar entender que, quiçá, o resto do disco não será alegre da mesma forma. Qual é, assim, o nome da Sara? É simples: é o de todos nós, o dos que esboçam um sorriso para esconder a mágoa.
A Sara talvez não tenha nome, mas tem logo ao início uma canção extraordinária, melancólica de doer por mais, rebuçado tropical que nos arrebata de imediato o coração: "Atemporal". E como se não bastasse, o temporal traz a chuva de "Água Viva", onde os jogos de palavras que ela vai debitando em nada devem à melodia sossegadamente emo que dali vem, e das gotas que pingam lágrimas com alto teor alcóolico. O melhor tributo que ouvimos em muito tempo à cegueira e à ideia de que é preciso é andar sempre bêbado, todo fodido, quanto mais não seja para esquecer que a vida existe - uma percepção que a própria Sara tem a meio, quando a canção explode de electricidade.
Se a Sara tivesse um nome, talvez alguém pudesse socorrê-la em "Ajude-me", onde o espectro do pós-rock sobrevoa a canção: Batendo o vento, caindo a chuva / Estou diante do acontecer / Solucionados os seus problemas / Fecham-se os olhos pra não me ver. Como não tem, terá que se valer de canções como "Páscoa De Noel", como uns Clã de sotaque brasileiro, os mesmos que se apresentam em "Queda Livre" dois temas depois; ou então que grite em inglês, como em "Prison Break", "Grandma I Love You So" e "We Were Born Dead". Mas ainda que a Sara não tenha nome, tem um talento enorme - o que pode permitir que ela venha a ter um nome. Já que ignorá-lo seria quase como um crime, escolham fazer o bem.