É verdade que o Emo leva muita pancada (bem, tanta quanta a que dá em si mesmo), virtude de, algures após a viragem do milénio, ter deixado de ser apenas uma vertente do hardcore para se tornar em subcultura e em showbiz, às cavalitas de coisas como os Dashboard Confessional, os My Chemical Romance e os Fall Out Boy, que se afastaram do molde original e aliaram o desespero à pop feita com guitarras. Os puristas, como todos os puristas, ficaram horrorizados.
A bastardização do género tem, contudo, perdido força; e à medida que os MTVEmos perdem força nas tabelas, as movimentações no underground têm reposicionado esta música na árvore que lhes deu vida. Vejam-se por exemplo os excelsos La Dispute, que parecem ter saído da mesma cena que os Indian Summer e os Rites Of Spring há vinte e cinco longínquos anos. Olhe-se para os The World Is A Beautiful Place & I Am No Longer Afraid To Die ou os Touché Amoré. E ouça-se estes mesmos Ombu.
O trio de São Paulo editou em 2015 Mulher, EP onde o punk é sincero e emotivo, onde as letras lançam poesia-como-feitiço em direcção a um instrumental minimalista e onde a Mulher, esse sinónimo de mágoa e tristeza, é um vulto perdido na memória; um "Fim Do Mundo" de fim de relação, ou de não-início sequer. As guitarras nunca assumem verdadeiramente uma posição hardcore, preferindo ruminar pelo espaço, criando sobretudo o ambiente sonoro propício - como em "Não Faz", onde os rasgos complementam a voz e não o contrário como em quase todo o punk.
Mulher é um EP curtinho mas gostoso, seis faixas totalizando menos de 30 minutos onde o Emo nunca soou tão gingão - mas, recordemos, os Ombu são brasileiros. A ginga está-lhes no sangue. E o seu maior exemplo é "Haule", pedaço bonito de dança-canção e dona dos melhores versos presentes no EP: Somos dois um violão de cordas abertas / E o nosso corpo ressoa em nós mesmos quando a gente samba. É possível dançar ao som de Emo? Claro que sim, é possível dançar ao som de tudo, até da saudade.