bodyspace.net


Low Ones And Sixes

2015
Sub Pop


Passada a barreira dos 20 anos de existência, e dos 10 álbuns na discografia, os Low poderiam estar numa de duas fases. Uma, a menos auspiciosa, seria a de lançarem discos menores uns atrás dos outros. Ofuscando assim o que ficou nos ditos 10 discos de originais que ficaram para trás (sem contar os EPs e afins). Mas há outra possibilidade para longas carreiras. E aqui os Low seguem o caminho de um Nick Cave. Mesmo que um disco novo não iguale uma das obras-primas já editadas, há sempre a possibilidade real do próximo o fazer. Cave fê-lo no magnífico Push The Sky Away. Os Low teriam que fazer algo especial para suceder ao bonzito C’mon (2011), e ao bom-mas-não-soberbo The Invisible Way (2013). É com agrado que se constata que a tentativa não saiu gorada. Ones And Sixes faz regressar aos lares de todo o mundo a luz quente na tempestade gelada que faz dos melhores momentos da música dos Low estranho conforto. Como uma fogueira numa casa abandonada, acendida com a madeira da própria.

Tudo isto começa por se fazer notar logo no momento de abertura. “Gentle” coloca as vozes inconfundíveis e penetrantes de Alan Sparhawk e Mimi Parker a entoar um encantamento feito de palavras soltas, espaçadas e lentas, enquanto que a instrumentação vai marcando compassos, como se estivesse a dizer as vozes que continuem a marchar, apesar das condições. E a partir daí somos arrastados na correnteza daquele que é talvez o disco mais “desolado” dos Low desde o poderosíssimo “Trust” (2002). Independentemente das drum machines de “Congregation”, da doçura muitíssimo amarga de “What Part Of Me”, ou dos Velvet Underground em hipotermia (sim, sim) de “Kid In The Corner” ou “Lies”, sentimos que há por ali algo que espreita de algum ponto de observação que não conseguimos descortinar. “Landslide” procura localizá-lo durante perto de 10 minutos (é o típico Low-épico do disco). “The Innocents” tenta usar atenuantes, e atraí-lo com possante magnetismo. Mas falham sempre. E isso, paradoxalmente, faz com que queiramos prosseguir. Jogar um jogo do gato e do rato, porque há sempre as vozes de Parker e Sparhawk para nos seduzirem.

É difícil adivinhar o que vai uma banda como os Low fazer a seguir. Na verdade, será “O que bem quiserem”. Todos sabemos, mesmo que não saibamos se isso irá trazer ao mundo uma maravilha pessoal e intransmissível, com certificado de genuinidade, como é Ones And Sixes. E se olharmos para a carreira do trio de Duluth, Minnesota, desde que I Could Live In Hope apareceu em 1994, o que notamos é que sempre procuraram pintar dentro da mesma folha de papel. Acontece, tão somente, que os Low têm na sua posse a fórmula para fazer essa folha crescer em dimensão. Que ela também nos sirva de mapa por muitos mais anos.


Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
09/12/2015