Mãeana é o alterego que Ana Cláudia Lomelino, vocalista dos brasileiros Tono, escolheu para mostrar-se a solo. "Solo" aqui serve mesmo para explicar que este é o seu disco de emancipação. Isto porque Ana Cláudia Lomelino está longe de estar sozinha neste álbum: Berna Ceppas, Bruno Di Lullo, Domenico Lancellotti, Marlon Sette e Pedro Sá são apenas alguns dos músicos que a acompanham nesta aventura.
São ao todo catorze canções. São canções pop que às vezes viajam e são selva, são natureza, são psicadelismo, são instinto humano (é ouvir "Não sei amar" e perder a noção espacio-temporal durante alguns momentos). Mãeana é um disco bem mais complexo do que aquilo que a sua falsa simplicidade parece sugerir.
Exemplo dessa falsa simplicidade? "Mãe Ana", um delírio melódico-rítmico. Aqui, como em todo o lado, mas ainda mais aqui, a voz de Mãeana é toda ela melodia, toda ela emoção, toda ela dança. "Romance espacial" é um jogo delicioso de estranheza, de pequenos detalhes, de ruidoso gostoso. Os exemplos são mais do que muitos: difícil é encontrar neste disco uma canção sem um punhado de bons argumentos (nem que seja um acordeão saído de um qualquer lugar mágico e inesperado).
Mãeana é um disco fora do seu tempo - no melhor dos seus sentidos. Não é só por vezes lembrar, por exemplo, o clássico homónimo de Nelson Ângelo & Joyce, editado em 1972, e outras pérolas da época. É porque este parece ser, mesmo visto aqui e agora, um disco perfeitamente intemporal. Vão decorando este nome; vão ter de o dizer algumas vezes no futuro próximo.