Quando se juntam piano preparado e bateria preparada num mesmo espaço o resultado será simples e óbvio como um ovo de Colombo: vai sair daqui algo de bom. Bom, mas imprevisível; improvisado, e ao mesmo tempo estruturado, de forma a não tombar na mesa. Assim é A Kind Of Zo, o disco de estreia dos OZO, dupla formada por Paulo Mesquita e Pedro Oliveira, o primeiro de formação erudita, o segundo com um CV que passa pelos peixe:avião.
Bom, imprevisível, e impossível de se descrever - há aqui rasgos em "String Strip" que parecem guitarras ou baixos eléctricos amordaçados por um qualquer grupo paramilitar, há uma aura inquietante que atravessa a faixa inteira; é uma melodia, é um sonho, é um espectro que eriça a pele por não o sabermos decifrar, e tememo-lo porque o desconhecemos. Para quem não está habituado a música assim, A Kind Of Zo transmite essa inquietação constantemente: assusta-nos e fascina-nos como às crianças uma chama.
O maior desafio, então, é saber descrever a música que aqui se respira sem ter qualquer conhecimento prévio de como a descrever academicamente, que é o maior problema deste escriba quando lhe cai nas mãos tamanho OVNI. Claro que poderíamos entrar numa discussão enorme sobre o que é isso da música académica, que é o estereótipo de eleição ao falar-se de música improvisada versus música pop/rock. Ou então podemos simplesmente ficarmo-nos pela beleza irredutível do piano em "Paralell" e "Lens Flare", ou pela exploração rítmica de "Z For Two", ou pelo bailado de "Ozo". Porque se eles, erudito e pop, se juntaram em disco, nós também podemos usar uma linguagem mais tosca para se dizer que A Kind Of Zo deve ser ouvido, democraticamente, por todos aqueles que gostam de música.