bodyspace.net


Led Zeppelin Led Zeppelin

1969
Atlantic


Decorria o décimo segundo dia do primeiro mês de 1969 quando o disco homónimo dos Led Zeppelin foi editado numa Inglaterra que recebia, ao mesmo tempo, Let It Bleed dos Rolling Stones e Yellow Submarine e Abbey Road dos Beatles, por entre outras conquistas musicais. Depois da transformação dos Yardbirds em cinzas, Jimmy Page, que até então tinha alinhado pela banda conhecida pelo trio Clapton, Beck e Page, convida John Paul Jones para o baixo, Robert Plant (um jovem que cantava em bares para ganhar dinheiro para comer e tinha passado por algumas, poucas, bandas antes de se juntar ao seu projecto de sempre) para a voz, e, por último, John Bonham, que até chegou a receber um convite para se juntar a Joe Cocker. O nome Led Zeppelin, sugerido por Keith Moon, baterista dos The Who que, e em jeito de piada, se referiu à banda como um possível desastre de zepelim, já não era estranho para muita gente, pois a banda tinha vindo a dar alguns concertos pela Inglaterra (especialmente em universidades e em pavilhões) ainda com o nome de New Yardbirds. Na capa do disco, mostra-se um zepelim em chamas pronto a embater no solo. Talvez isso fosse o prenúncio que alguma coisa de marcante se preparava para acontecer.

O motivo? O hard-rock. Mas não é só. Led Zeppelin é um misto de blues, folk, rock psicadélico e até - pasme-se - punk. Apesar de tudo, quase todas as canções do primeiro registo da banda têm por base o blues embora revestido, pois, pelo heavy rock. Os riffs de Jimmy Page são viciantes e coloridas viagens pelos mais diversos territórios musicais. A voz de Robert Plant é incendiária e deflagradora de letras alusivas a sexo, amor ou adolescência. A forma de John Paul Jones tocar o baixo é atrevida, excitante e nova: embora fosse uma pessoa reservada (não são quase todos os baixistas pessoas discretas?), o baixo, nas suas mãos, parecia envolto em raiva, delirante. John Bonham completava o quarteto com a sua distinta e destrutiva forma de tocar bateria - nunca mais alguém soou assim.

“Good Times Bad Times†abre o disco e logo aí se nota que é maioritariamente de rock que se fala neste disco. Quando Robert Plant diz “in the days of my youth, I was told what it means to be a man, now I've reached that age, I've tried to do all those things the best I can†fazia já antever as famosas e selváticas festas com as groupies e todo o rock'n'roll way of life que marcariam os próximos anos. “Babe I’m Gonna Leave Youâ€, que até começa com um arpeggio acústico, rapidamente se transforma em fúria. É a canção mais confessional dos nove temas que compõem o disco e prova a diversidade estilística que a banda tinha para oferecer. “You Shook Me†e “I Can’t Quit You Babeâ€, dois originais de Willie Dixon, são revistos pelos Led Zeppelin em versões cruas e fumarentas deixando no ar uma névoa espessa de blues. Em “Dazed and Confused†tudo é demoníaco. Se é verdade que os Led Zeppelin praticavam culto ao demónio, este é hino de agradecimento, o mais profundo acto de veneração. É uma canção cheia de mistério, envolta no mais profundo culto secreto: o baixo comunica com a bateria, a guitarra (tocada com um arco de violino e com um som arrastado e profundo) com a voz. Repetem-se as coordenadas, e cria-se a ansiedade até à manifestação súbita de raiva que é a explosão relampejante que se pode ouvir na canção. "Dazed and Confused" é conhecida, ainda hoje, como uma das melhores canções que os Led Zeppelin alguma vez fizeram. E com toda a razão.

A maior surpresa do disco será, facilmente, “Communication Breakdownâ€. É um motim, um espasmo, uma investida punk que dura dois minutos e vinte e sete segundos: começa, destrói tudo e deixa as cinzas no chão, espalhadas pelo triunfante solo de guitarra de Page. Para terminar em beleza, “How Many More Timesâ€, exercício rock em forma de jam que conta mais uma vez com o arco de violino na guitarra de Jimmy Page e com ambientes marcadamente psicadélicos. O baixo de John Paul Jones, saltitante, guia toda a canção e arrasta consigo a guitarra electrizante de Page até uma parte mais dada ao improviso, cheia de alma e misticismo: os breaks de Bonham sucedem-se uns aos outros; junta-se depois a guitarra dilacerante de Page e as letras inflamatórias de Plant: “oh, Rosie, oh, girl. Steal away now, steal away. Little Robert Anthony wants to come and playâ€.

Embora a crítica tenha ficado dividida com o álbum de estreia, os mais atentos sabiam que os Led Zeppelin tinham chegado para ficar. Era notória a magia que havia entre os quatro músicos quer em disco, quer nos concertos ao vivo. Para o bem ou para o mal, os Led Zeppelin tiveram uma notória influência no que ao hard-rock e ao heavy metal diz respeito. O resto, bem, o resto é história.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
31/03/2004