Ainda que em géneros distintos, Duke Ellington e Conny Plank são dois nomes incontornáveis no mapa musical do século XX. A vontade de experimentar e inovar e, acima de tudo, de quebrar convenções, são traços comuns de dois caminhos distintos e que julgávamos impossíveis de cruzar. Mas cruzaram-se e esta The Conny Plank Session, recém recuperada pela discográfica Grönland, é um verdadeiro testemunho de um momento tão histórico quanto inesperado.
A origem do encontro entre ambos está envolta em algum mistério e as opiniões quanto ao mesmo dividem-se. Sabe-se que a gravação foi feita entre Abril e Julho de 1970, em Colónia. Ellington estava de passagem pela Alemanha com a sua orquestra e precisava de um lugar para ensaiar. Plank, que um ano antes trabalhara com Alexander von Schlippenbach no álbum The Living Music, terá oferecido o seu estúdio ao maestro, embora haja quem diga que foi Ellington que escolheu o alemão para engenheiro de som da sua banda - e bom, o resto é história.
Na altura com 71 anos, Ellington corria mundo a apresentar “hits” e standards com alguma previsibilidade. Contudo, o seu trabalho de estúdio – onde se incluem estes seis takes registados em Colónia - revela uma saudável irrequietude musical. Duke e a sua orquestra começam por percorrer três versões de “Alerado”, que arranca vibrante e solto para chegar ao terceiro take em tempos mais lentos, mas com construções e solos mais precisos. “Afrique”, por seu lado, é um zénite da criatividade de Ellington, cada vez mais preocupado em integrar sons do mundo na sua música – algo que aconteceu em definitivo com The Afro-Eurasian Eclipse, lançado em 1971. Seja nos dois takes instrumentais, onde a cascata de sopros e a percussão ribombante ditam o caminho, seja no terceiro e espantoso terceiro take, onde a voz e o órgão se unem para criar um tema arrebatador.
Ainda que não seja um encontro definitivo para as carreiras de ambos – Ellington gravou vários discos antes de falecer quatro anos depois e Plank tornou-se num dos mais importantes produtores europeus -, The Conny Plank Session deita alguma luz sobre o início do trabalho lendário de Conny Plank. No mesmo sentido, ilustra bem como Ellington se soube manter longe do ocaso, procurando constantemente inovar tanto em palco como fora dele.