Os From Monument To Masses sĂŁo uma das mais recentes coqueluches do pĂłs-rock/rock experimental/indie rock (escolha uma por favor). The Impossible Leap in One Hundred Simple Steps Ă© a segunda amostra do trio composto por Francis Choung, Matthew Solberg e Sergio Robledo-Maderazo. Para quem conhece bandas como os Don Caballero, os Shipping News ou mesmo os Slint, as canções dos norte-americanos nĂŁo constituirĂŁo nenhuma especial novidade. A Ăşnica diferença Ă© a mistura deste tipo de sonoridades com a raiva de explosões hardcore fugazianas e a proliferação de mensagens polĂticas a la Godspeed You! Black Emperor (atĂ© Ă data de publicação deste texto, o nome da banda manteve-se igual).
Variações inesperadas de ritmo, direcções imprevisĂveis, o efeito surpresa. É quase um rock matemático, de rĂ©gua e esquadro, aquele que se desenvolve neste disco. Muitas vezes sĂŁo a base para a introdução de mensagens panfletárias de George Bush, discursos de Malcolm X ou mesmo de samples de relatos radiofĂłnicos de catástrofes e comentários de Ăndole polĂtica. A primeira canção, “Sharpshooter”, abre com uma guitarra em devaneio sĂłnico para dar depois lugar Ă primeira mensagem polĂtica do disco. Segue-se a construção da canção propriamente dita, feita do cruzamento da guitarra com o baixo em perfeita associação heterogĂ©nea. Como se, de repente, o rock precisasse de ser arduamente construĂdo, Ă força do pulso e de estruturas complexas. Os instrumentos sĂŁo trabalhados de uma forma musculada, a execução Ă© rápida e tĂ©cnica. Pequenas secções desenvolvem-se em outras pequenas secções atĂ© que a canção, em efeito chaleira, explode com uma fĂşria quase hardcore que acontece tambĂ©m em outros temas, como “The Spice Must Flow”. Outra mensagem polĂtica e voltamos ao mesmo - ciclo vicioso, este. A guitarra Ă© quem, invariavelmente, guia todo o processo e fá-lo de uma forma densa, cheia de drones e repetições.
“The Quiet Before” Ă© um tema – que quase conseguia sobreviver sem mensagem polĂtica – que tem tanto de breve como de prazenteiro. É solarengo, atravessado por uma melodia agridoce em forma de riff.
O tema que mais admiração causa é, curiosamente, aquele que mais destoa do resto da sonoridade do álbum. “Comrades and Friends” constrói-se de drum machines, melodias densas, espessas, e de guitarras em concordância. Transmite um sentimento quase cadente, de decepção e descrença. “To Z (Repeat)” acaba o registo da mesma forma que começou e quase faz justiça ao seu próprio nome.
A Ocidente nada de novo. Mesmo assim vale a pena ouvir o segundo disco do colectivo de São Francisco, quanto mais não seja pela mistura de estilos e pela pertinência e inspiração de algumas canções. Espera-se mais de uma banda que, apesar de não apontar para nenhum caminho especialmente original, tem na inconstância o seu maior trunfo.