Não tivessem os Pop Dell'Arte alguma irregularidade na edição de álbuns, que lhes possibilitaria um contacto mais regular com o público, e seriam por certo, a par de bandas como os Mão Morta, das grandes referências nacionais a nível musical. De facto, as condições estão todas presentes e têm em João Peste uma das melhores vozes do actual panorama nacional e também uma criatividade ímpar.
O primeiro grande apontamento histórico dos Pop Dell'Arte remonta a 1985, quando ganharam o prémio de originalidade no concurso do Rock Rendez Vous. Nessa altura não eram, como hoje, uma banda de eleição pela crítica nacional. Havia várias e dispares acusações que passavam pela música, imagem, letras e produção, sendo consideradas exactamente o contrário do que deveria ser feito. Mesmo assim, "Free Pop", o primeiro álbum da banda lançado em 1987 era já um álbum de impressionante visão de uma cultura pop que começava a brotar. Em 1990 surge a compilação "Arriba Avanti", que reunia material dos primeiros anos da banda e uma "demo" da primeira sessão de estúdio. Em 1993 surge "Ready Made" e dois anos depois, aparece aquele que é considerado um dos melhores álbuns da produção nacional de 90, "Sex Symbol", com edição por uma multinacional (Polygram). Depois de um fim muitas vezes comentado como possível, uma série de concertos devolve os Pop Dell'Arte à actividade. Novos temas começaram a ser tocados pela banda nesses concertos e a expectativa do aparecimento de um álbum começava então a ganhar formas mais definidas. Ansiedade quanto baste, expectativas bem elevadas, ouvidos à espera, e... os Pop Dell'Arte não decepcionam, antes pelo contrário. Talvez apenas o "sabe a pouco" seja o único inconveniente encontrado em "So Goodnight", o EP que devolve os Pop Dell'Arte à ribalta.
O EP começa com "Mrs. Tyler", uma canção onde a teatralidade dos sons se cruza com a voz de João Peste de uma forma magistral, espelha imagens de procura e perda, é o primeiro grande momento do EP. Logo de seguida, "So Goodnight" é uma faixa de beleza inestimável, onde os coros suavemente cantam com uma excelência fascinante, e onde se cruzam com a voz de João Peste irrepreensivelmente. A melodia completa o quadro e temos aqui mais um grande momento do EP. "The Sweetest Pain" é uma canção algo estranha, onde guitarras distorcidas, ruído, e voz, se envolvem numa interessante coreografia sonora. "Pound by Pound" representa um momento de declamação de poesia de Ezra Round, onde de novo guitarras destorcidas, ruídos, e notas de piano fazem o ambiente declamatório. "The Witch Queen Of the U.S.A." é um pequeno instrumental de 55 segundos, que tem origem e ponto de partida no "Feiticeiro de Oz". A encerrar o EP, "The Little Drama Boy" representa uma versão do clássico de Natal, "O pequeno rapaz do tambor", numa adaptação bem conseguida que representa o terceiro grande momento do disco.
"So Goodnight" grava em disco então o regresso dos Pop Dell'Arte após a longa pausa que se caracterizou pós "Sex Symbol". Um dos grandes momentos musicais nacionais dos últimos anos, que, como dizia algo ironicamente João Peste numa entrevista a propósito deste EP: "Não é bem um EP nem um mini LP, é mais um EPÁ... Um "EPÁ ainda estamos vivos".