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The Chemical Brothers Born in the Echoes

2015


“No time to rest, Just keep your best, What you hear is not a test, We are only here to make you… Go!”

2015. Os Chemical Brothers regressam com mais uma punhado de tiradas sonoras que nada mais pretendem senão queimar o músculo dos hedonistas. Já o disse antes nestas páginas: Tom Rowlands e Ed Simons são os grandes fazedores de singles da electrónica maximalista; são-no há dezassete, ou dezasseis anos. E assim se têm mantido, incapazes de fazer verdadeiros discos com ideias válidas do princípio ao fim (exceptuo talvez os dois primeiros álbuns; era o efeito novidade). E o que há realmente a esperar destes dois profissionais nos dias que correm, mais dois ou três orelhudos temas para o currículo?

Sempre habituado à ideia de que os "manos" se resumem a essa entidade que aposta sempre no caminho mais imediato, apostados em “flashes” sedutores de música – mega hits instantâneos (já ninguém o faz como eles, é certo!) –, musculosidade techno-rock-pop (psicadelismo adicionado) idealizado para fazer abanar os alicerces dos grandes recintos, desconfiei que Born in the Echoes seria mais uma sequela da enfadonha doutrina da dupla. Conclusões? Sim e não.

Não adianta dourar a pílula. Basicamente estamos perante mais do mesmo. Há, no entanto, uma nuance neste trabalho que permite vislumbrar um desejo dos "manos": o de voltar à raiz do projecto, voltar a fazer música com amor em vez de mera necessidade. A consequência é algum embaraçado nesta produção: Born in the Echoes não quer trair os siameses paridos nos últimos dez anos; contudo também quer assumir o quanto idolatra a pureza dos dois primeiros discos, Exit Planet Dust ou Dig Your Own Hole.

Este disco é – finalmente – uma obra com um dilema existencial neste pequeno universo. Born in the Echoes assume-se (com intenção, ou meramente acidental) incerto. E é essa sua graçacinha. Essa faísca de dúvida sobre o que realmente pretende ser: mais do mesmo, ou alavancar-se nas origens. Não ser estupidamente profissional, permite aos Chemical Brothers uns instantes interessantes; instantes em que o melómano vislumbra uma pequena aura de genuinidade.

PS: Há nos extras deste disco – para quem adquirir a versão Delux – dois instantes ("Let Us Build a City" – numa toada Pink Floyd-iana – e "Wo Ha" – mais electro-house-Kraft) que são autênticos monumentos à especulação de uma outra era. Quem diria que os manos ainda seriam capazes?


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
01/09/2015