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Coclea Coclea

2015
Shhpuma


É daquela guitarra marinheira, a surgir por entre o cheiro a sal e a paisagem avistada desde o cais. "Touch", evidentemente, porque toca o imaginário e a alma, traz consigo os de agora, os de antes, os que estão por vir, aqueles que deixarão tudo para trás em busca da terra e do tesouro. Guilherme Gonçalves, vulgo Coclea, parece saber muito bem como deixar uma óptima primeira impressão; o dedlilhar, o slide, e uma das melhores faixas de abertura num disco deste nosso 2015.

Não que Coclea, o seu mais recente álbum, editado pela Shhpuma, seja apenas essa "Touch"; certo é que o primeiro tema ajuda, mas uma viagem não se faz apenas da partida. Logo a seguir, uma sereia entra pela cóclea (impossível não fazer a piada) com o seu canto, extremado pela onda melódica que a guitarra vai surfando aqui e ali, um tsunami gigante de maravilha. É possível ser-se psicadélico se, em vez do rigoroso LSD, levarmos a água do mar à boca?

Coclea é um disco fascinante, onde as composições de Guilherme Gonçalves percorrem o espaço sonoro em ritmo de viajante, recolhendo informações de cada canto e crescendo pessoalmente com isso. O que mais sobressai é mesmo a guitarra esparsa, com um ou outro condimento electrónico. "Touch" e "Mermaid's Theme" dão esse mote, a bela "Desire" exalta-o, e em "Homem Dos Sonhos" Coclea dá até espaço à sua própria voz, flutuando como uma bóia em tarde de verão. E há ainda os sete minutos berberes - o deserto a impôr-se à água - de "Scorpio's Theme". Diz ele que veio tudo ter consigo. Só nos resta chamar-lhe Maomé.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
08/05/2015