O nome é frágil, a música que aqui se ouve também. Paper Dollhouse é o modus operandi com o qual Astrud Steehouder, agora aliada à artista visual Nina Bosnic, assina uma música negra e cinematográfica que, à falta de melhor, poderíamos adjectivar como gótica, no mesmo sentido em que a uma cantora como Zola Jesus também esse rótulo é colado, visto que Zola resgata o imaginário da subcultura e alguma da sonoridade de base para criar um corpo de trabalho que está para lá de qualquer categorização simplista, tal como Astrud.
Aeonflower, o seu segundo álbum enquanto Paper Dollhouse, é profundamente recompensador. A teia vai-se tecendo livremente, quase como se pedisse licença, desde a introdução a sintetizador de "Oracle", passando pela magnífica "Stand", que dá o mote ao negrume: I stand / You put the lights on me..., versos entoados de uma forma que se não fosse tão doce seria inevitavelmente sarcástica. Chegaremos depois à paradoxal "In The Sun", com o momento noise de "Psyche", metido aqui no meio, a mostrar-se como o único corpo estranho num disco imaculado. E ainda dois deliciosos momentos ambientais e abstractos: "Your Heart" e "Silence".
Frágil, mas também assustador, o género de música capaz de criar um arrepio na espinha em madrugadas de nevoeiro cerrado com som algum para além deste - os fantasmas existem e estão à espreita, afinal de contas. Aeonflower é um belíssimo disco, inventivo quanto baste e refém (num bom sentido) da voz crepitante de Steehouder, já que as canções mais instrumentais, não obstante captarem igualmente a atenção, precisariam de um toque de Midas a mais. Não obstante, Aeonflower é prova de que ainda é possível fazer muita boa coisa a partir do gótico sem cair na paródia ou no cliché. Venham mais assim, vitalidade precisa-se.