As bandas portuguesas-que-cantam-em-português que surgiram no rescaldo da maior visibilidade mediática da Flor Caveira, salvo raras excepções (Samuel Úria, Virgem Suta) sofrem de um mal semelhante. Um mal que, à primeira vista é difícil de definir. Difícil porquê? Porque se estão a tentar ter graça com estas letras, o resultado é triste. Se não estão, é triste à mesma. Para dar um exemplo, um dos muitos convidados deste disco é Miguel Ângelo, o ex-vocalista dos Delfins. E quando este declama (literalmente) a letra do seu “Um Lugar Ao Sol”, o que salta à vista é que o seu tom de auto-ajuda barata “Jovem – luta e vencerás!” não perde em qualidade em relação as restantes letras deste disco.
Falando do disco, é preciso assinalar que nada deve mover o apaixonado por música contra os discos conceptuais. Muitas obras-primas já foram feitas sob tal égide. O problema desta “história” em que o velho centro comercial Apolo 70 se transforma numa nave espacial, é que as partes que a compõem não estão à altura da ambição. A toada habitual é a do synth-pop. Inclusivé um synth-pop que podia ser uma mistura da pop dos Heróis do Mar com o lo-fi dos Magnetic Fields de Get Lost. Uma descrição que soa muito bem, sem dúvida. Mas depois vem a voz e as letras. E não há como dourar a pílula. As vozes são o que só se pode definir como “Irritantes à brava”. Um tom de tal modo afectado (Ex: “Jó-vaim”) que faz os Sétima Legião pós-primeiro álbum parecerem os Clash. E pensa-se em nomes que nenhum disco devia fazer pensar. Lunáticos, Ciclo Preparatório, Da Vinci indies, Loto. Quando entra o falsete, então, qualquer segundo que falte para acabar a música é um segundo a mais.
De entre os convidados, destaque para José Cid (Sim, há aqui algo do seu – lá está – conceptual 10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte. Embora não no resultado final) e Bruno Aleixo. Não porque cantem alguma coisa. Só falam, mas ainda assim tem uma naturalidade e graça nas vozes que faz perceber ainda mais como estas estão em falta no resto do disco. As rimas de bradar aos céus sucedem-se em catadupa (“Chá” com “Cha cha cha”?!?). E as melodias são demasiado simplistas sem nunca obterem a magia levitacional que esta pop já obteve tantas vezes na sua existência. Em suma, é difícil acreditar num “conceito” quando nos é apresentado de uma forma que faz lembrar uma qualquer trupe universitária a “tentar” fazer um espectáculo de comédia antes de um concerto de tunas. Com uma quantidade de referências nas letras de fazer inveja aos Vampire Weekend. O espaço, esse, vai continuar a pertencer a outros exploradores.
Ah, não falei nos interlúdios. Acreditem, vocês não querem que eu fale neles.