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Bande à Part Caixa-Prego

2014
Creative Sources


Surgiu como uma surpresa, este trio Bande à Part. Reunindo Joana Guerra (violoncelo), Ricardo Ribeiro (clarinetes baixo e soprano) e Carlos Godinho (percussões, objectos), este novo grupo apresentou-se no ano passando, prometendo trabalhar uma improvisação sem rede. Se conhecíamos uma Joana Guerra diferente, pelas belas canções de voz e violino do disco Gralha, Joana está agora envolvida num contexto musical distinto, explorando a improvisação livre (mantém agora também um duo com o violinista Gil Dionísio). De Ribeiro já tínhamos ouvido o seu clarinete a apoiar as melodias do piano de Tiago Sousa. E Carlos Godinho já se tinha feito notar ao integrar o trio Zarabatana, com Yaw Tembe e Bernardo Álvares.

Neste contexto o grupo trabalha uma música sob uma forte orientação colectiva, numa massa sonora coesa. O papel de cada instrumento (ou objecto) passa pela atenção a cada som, trabalhado com detalhe. Cada intervenção é pensada no âmbito de um diálogo contínuo, pelo que as intervenções individuais são quase sempre contidas, subtis, em favor dessa dimensão colectiva maior. Cada instante desta música é único e irrepetível e este disco, editado pela Creative Sources de Ernesto Rodrigues, é constituído por cinco temas, cinco fotografias do momento, ou "Chapas".

O violoncelo pode esboçar um sentido de melodia, o clarinete segue-lhe a cauda,​ ​junta-se o nevoeiro da percussão. Imprevisível, a música segue numa invisível harmonia​, recheada e coerente​. Ora sussurrante, ora inquieta. Ainda que navegue num constante equilíbrio, há ainda espaço para pequenos desvios, como acontece por exemplo ao terceiro tema, com o clarinete de Ricardo Ribeiro a assumir um maior protagonismo. O nome do grupo pode ter sido inspirado por um filme de Godard, mas a sua música flui com a ligeireza do trio de Jules et Jim​ de Truffaut.​


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
29/12/2014