Nos últimos anos o nome do pianista Óscar Marcelino da Graça tem surgido com alguma insistência em diversos contextos. Será actualmente um dos pianistas mais requisitados da nossa praça, colaborando em diversas formações, com músicos como Nélson Cascais, André Fernandes, João Lencastre ou Nuno Costa.
Este disco Velox Pondera, editado exclusivamente em vinil (saúde-se o simbolismo do gesto), corresponde à primeira aventura discográfica de Marcelino da Graça em nome próprio, funciona como a apresentação do pianista na condição de líder do seu próprio grupo. Graça está aqui a encabeçar um trio que se complementa com o contrabaixo de Demian Cabaud e a bateria de Marcos Cavaleiro – uma das mais consistentes duplas rítmicas da cena nacional.
Se nos projectos onde participa como “sideman” já tinha exibido bons apontamentos (não só no piano acústico clássico, mas também no eléctrico Fender Rhodes), o pianista revela agora aqui todos os seus recursos. Este é um disco sóbrio, com música original de Graça (todas as composições são da sua autoria), que - estranhamente - parece não ter altos e baixos: mantém uma coerência do princípio ao fim do disco. Esta música é marcada por um permanente equilíbrio, no cruzamento da tensão proporcionada pela dupla rítmica com as ideias que vão saindo do piano.
Este é um registo de natureza clássica que, apesar de não se aventurar em águas turbulentas, exibe uma constante solidez. Entre “Parábolas cristalinas e caminhos de golfinhos”, “O som da instranquilidade” e “Elipse perpétua” (óptimos títulos), a música de Óscar Graça balança numa constante tranquilidade, assente num piano que demonstra uma enorme fluência discursiva.