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Joana Gama e LuĂ­s Fernandes Quest

2014
Shhpuma


Ela, uma pianista de renome, ele, membro fundador dos peixe:avião e um Astroboy em pleno. O casamento entre Joana Gama e Luís Fernandes deu-se no mítico Theatro Circo e daí nasceu Quest, um estranho híbrido com braços electrónicos e cabeça amavelmente humana, música que vai da suavidade à tensão em poucos segundos: Gama oferece a emoção das teclas, Fernandes a exploração das mesmas através de loops ou dissecações várias. O resultado não é passível de rótulos, apenas de escutas: quarenta e quatro minutos, nove takes cinematográficos cada qual com a sua história.

Um arranque quase-tenebroso em "Twisted Movements" dá o mote para o filme que se desenrola na nossa própria imaginação, milhões de filmes diferentes, tantos quantos aqueles que levarem à letra o aventureiro título do disco. Algo semelhante ao bater de um coração em "From Mist To Nothing", coadjuvado pelo piano e pelas paisagens electrónicas, assume-se como o momento mais alto de Quest, que de logo dá lugar a bonita limpidez de "Dream" - quase como se este disco fosse, de facto, uma criança (e talvez o seja).

Um pequeno e soberbo interlúdio electrónico precede "Night Drive", antes que o tema-título se revele em todo o seu esplendor, trazendo de volta a tensão e o êxtase em partes semelhantes, evocando mestres antigos e contemporâneos da electrónica ambiental, dos Tangerine Dream aos Boards Of Canada. "Let Bygones Be Bygones" é quase espacial (Astroboy, indeed) e o disco volta à ansiedade com "This Frozen Sea". Um disco, ou um filme, emocionantes, como os bons devem ser.


Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
10/09/2014