Esclareça-se desde já que Will Holand não lança um disco como Quantic desde 2006. Mas os mais atentos sabem perfeitamente que Will é tudo menos dado ao ostracismo. Ter arrumado as malas em Londres para se instalar na Colômbia para umas férias prolongadas – extremamente prolongadas! –, e ter-se dedicado a tempo inteiro a estudar e a interpretar os maneirismos da cúmbia (quase como estilo de vida), e outros aromas provindos das correntes quentes das Caraíbas, é um arrebatador exemplo de um homem que se apaixonou pelo espólio sonoro do novo mundo, tendo-se dedicado a ele com uma invejável determinação em detrimento do papel de mero produtor com uma especulativa impressão do globo musical. Literalmente, Will saiu de casa e foi às raízes da música que há muito o apaixonava.
Quantic Soul Orchestra, Flowering Inferno, Combo Barbaro ou Ondatropica foram as quintas por onde se movimentou como maestro desde que editou o último álbum de originais – An Announcement To Answer. E continua incerto saber onde começou e acabou a inspiração do músico ou a proficiência do produtor. As últimas aventuras foram assertivas no que a colaborações diz respeito. Mas o que dizer agora que Will Holand voltou sozinho ao estúdio para retomar as divagações como Quantic? Digamos que o inglês nunca está verdadeiramente sozinho quando programa a sua música. A riqueza de toda a experiência vivencial leva-o a estar sempre acompanhado pelos melhores espíritos.
E chegados a 2014, e tendo Magnetica como um novo aglomerado de composições executadas enquanto produtor, Quantic revela a competência que se esperaria dele. E se An Announcement To Answer representava um fim de caminho, Magnetica, em vez de apresentar-se como futuro numa conjectura seca de interpretações da música do mundo pela modernidade – espírito prolifico ao longo dos anos 90 –, limita-se a ser um epítome das últimas incursões de Quantic como arqueólogo. Na música do novo disco tudo está preservado e limpo. Tudo está etiquetado e devidamente descrito em placas informativas. O computador – leia-se electrónica – organiza a exposição, que se quer mundial.
Magnetica é um museu virtual. Quantic o guia turístico. As montras mostram a orgânica da cúmbia, da salsa, do raggae, do dub, da bossa ou do samba (e até pop domingueira, no final do alinhamento) em pecado com cadências house e os sintetizadores (quase) invisíveis. Tudo simpático e organizado, mas freguesia onde nada de verdadeiramente impressionante se ergue da demonstração de know-how de Will Holand. Já bem se suspeitava que Quantic era perfeitamente capaz de fazer… isto. E “isto” não é necessariamente mau. Nada disso. Magnetica é empírico, competente. O que lhe falta, então? O que lhe falta é carisma, e espírito para ser mais que um catálogo turístico musical obcecado pela beleza dos trópicos das Américas, mais que um conjunto de "postais" prontos para a "capa" de uma qualquer edição da National Geographic.